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Visão do Correio: Jovens brasileiros ansiosos

A dependência digital merece atenção dentro e fora de casa. O equipamento que facilita o acesso a informações e conteúdos didáticos também alimenta o vício em outros conteúdos acessados pela internet

Internet Overdose -  (crédito: Caio Gomez)
Internet Overdose - (crédito: Caio Gomez)

Eles são maioria quando o tema é ansiedade. Os números vêm mostrando isso, e é preciso tentar entender as razões e evitar que fiquem ainda piores. A pesquisa nacional desenvolvida em 2023 pelo Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia (Covitel 2023) mostrou que um terço (31,6%) de jovens entre 18 e 24 anos é ansioso, o que chancela essa geração como a líder da ansiedade entre todas as faixas etárias no Brasil. Foram ouvidas 9 mil pessoas por telefone entre janeiro e abril do ano passado, das quais 12,7% relataram terem sido diagnosticadas com depressão. Já entre as mulheres, a porcentagem é de 18,1%.  

Mas o que poderia explicar essa explosão de ansiosos nos últimos anos? Para os especialistas, dois fatos estão intrinsecamente ligados. São eles: a pandemia da covid-19 e o excessivo uso de telas. Diariamente, um brasileiro gasta, em média, 9 horas e 32 minutos em frente a celulares, tablets, computadores ou qualquer outra tecnologia que emite imagens.  

Se pararmos para pensar que o isolamento social durou cerca de dois anos (entre idas e vindas) e que os brasileiros ocupam o segundo lugar no ranking de maiores usuários de telas do mundo, perdendo apenas para os sul-africanos, talvez consigamos entender as estatísticas envolvendo jovens e a relação entre quadros de ansiedade, síndrome do pânico, depressão e até mesmo suicídio. 

O ambiente escolar, espaço de interação e troca de vivências entre crianças e adolescentes, foi transferido para um quarto habitado muitas vezes por apenas uma pessoa que se comunicava com o professor e parte dos colegas digitalmente. E muitos sequer abriam suas câmeras, ou seja, preferiam permanecer invisíveis. Quantos pais foram obrigados a participar mais ativamente da alfabetização dos próprios filhos no pico da pandemia, quando não havia nenhuma sinalização de que a covid-19 se transformaria em doença crônica?  Outro dado que mostra essa relação é que de 2019 a 2022 (fim do isolamento social) houve um crescimento de 89% de brasileiros entre 9 e 17 anos usando a internet constantemente. 

Os prejuízos vieram a galope. Estudiosos sempre citam o conteúdo disponibilizado pelos meios eletrônicos como altamente viciante e envolvente - seja por meio de games, vídeos ou outros temas que apelam para a violência e para as bizarrices. No caso de crianças mais novas, as telas coloridas tornam-se fascinantes, o que leva os pais a adquirirem algum equipamento eletrônico para "entreter" o filho recém-chegado ao mundo digital.

Não é à toa que neurologistas, psicopedagogos e pesquisadores relatam prejuízos causados pelo uso exacerbado de telas, como pesadelos, falta de sono, angústia, problemas visuais (inclusive miopia), auditivos, de postura, transtornos alimentares, distúrbios mentais e, por que não, ansiedade. Em casos mais graves, assistimos a episódios corriqueiros de ciberbullying e, em menor grau, de estresse pós-traumático.  

A dependência digital merece atenção dentro e fora de casa. O equipamento que facilita o acesso a informações e conteúdos didáticos também alimenta o vício em outros conteúdos acessados pela internet. Discussões sobre restrições ao uso de celular em sala de aula, por exemplo, não podem ser ignoradas. Incentivo a atividades ao ar livre e em grupos também não. São questões já bastante conhecidas e defendidas por especialistas, que soam até como ladainha. 

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postado em 29/05/2024 06:00
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