Na próxima terça-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) divulga a ata da última reunião, realizada na semana passada, na qual a maioria dos integrantes decidiu por uma mudança no padrão da trajetória da taxa básica de juros. Em uma votação apertada, por 5 votos a 4, o colegiado optou por reduzir a Selic em apenas 0,25 ponto percentual, interrompendo a sequência de seis quedas de 0,50 p.p. Após meses de recuo constante, a autoridade monetária moderou o ritmo da redução dos juros.
O placar estreito evidenciou o racha que se instalou no Banco Central em relação à dosagem das medidas contracionistas na economia. No comunicado para justificar uma redução mais moderada da Selic, o Copom mencionou o consenso entre os seus membros sobre incertezas externas e internas a afetar a taxa básica de juros. A divergência estaria na amplitude do corte em razão desse novo cenário. O desempate veio do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que votou por uma queda mais suave.
Há razões a justificar a cautela. A resiliência da inflação nos Estados Unidos, o aquecimento do mercado de trabalho doméstico, de modo a pressionar a inflação de serviços, e o afrouxamento da meta fiscal pelo governo federal constituem, no entendimento do mercado e de analistas, fatores mais do que suficientes para abrandar o ritmo dos cortes na Selic.
As reações à decisão do Copom foram previsíveis. O mercado, em boa medida, já apostava em uma interrupção no ciclo mais agressivo de cortes. O anúncio de quarta-feira reforçou a desconfiança de muitos quanto às intenções do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao equilíbrio fiscal e no controle inflacionário. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, adotou um tom cauteloso, preferindo aguardar a ata desta terça-feira para dar um posicionamento mais eloquente. E o Partido dos Trabalhadores, mais uma vez, renovou os ataques ao Banco Central, personificado na figura de Campos Neto.
A questão que se coloca, com a divergência instaurada no Copom, diz respeito às futuras decisões do Banco Central no controle da inflação. Há dúvidas imediatas a serem sanadas, como a linha que será adotada na política monetária - ou, como se diz no jargão econômico, o forward guidance. A longo prazo, entram nesse tabuleiro a sucessão de Campos Neto, cujo mandato na presidência do Banco Central se encerra no fim do ano, e a nomeação de mais dois diretores para o colegiado a partir de 2025. É grande o receio de que os novos integrantes do Copom tenham maior alinhamento com o Planalto, crítico contumaz de Campos Neto e contrário à autonomia do Banco Central.
Espera-se, na terça-feira, que a autoridade monetária emita sinais esclarecedores para dissipar as nuvens de incerteza que sobrevoam Brasília. E que prevaleçam o bom senso e a responsabilidade. O Brasil não tem histórico recente de austeridade fiscal e tem enfrentado uma inflação persistente ao longo dos anos. O preço pago pela sociedade tem sido alto, não há por que obrigá-la a pagar ainda mais.
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