TRAGÉDIA NO SUL

Até quando vamos ignorar o alerta da natureza?

A tragédia do RS nos serve como um lembrete cruel da fúria da natureza e da necessidade de estarmos preparados para o futuro. É fundamental investir em infraestrutura resiliente, aprimorar os sistemas de alerta precoce e implementar políticas públicas que levem a sério as mudanças climáticas

Rastro de destruição provocado pelas inundações em Eldorado do Sul (RS) -  (crédito: Nélson Almeida/AFP)
Rastro de destruição provocado pelas inundações em Eldorado do Sul (RS) - (crédito: Nélson Almeida/AFP)

Tragédias não devem ser comparadas. São únicas na memória de uma nação. As imagens de cidades interior do Rio Grande do Sul, no entanto, nos fazem recordar de catástrofes que entraram para a história do mundo moderno, como a passagem do furacão Katrina pelos Estados Unidos e os tsunamis da Indonésia e do Japão, e até mesmo cenas de cidades bombardeadas, como ocorreu recentemente na Faixa de Gaza, na Ucrânia e na Síria.

Como as águas do Guaíba ainda não baixaram na Grande Porto Alegre, onde está concentrada a maior parte da população do estado, é impossível se ter a exata dimensão dos danos. E nem é momento de se fazer contas. Agora, a prioridade é salvar vidas, ajudar no resgate de pessoas ilhadas e de se fazer chegar comida e água potável à população.

É prematuro também se apontar culpados. O volume que caiu de água na região nunca havia sido medido pelo homem — modelos meteorológicos indicam que a probabilidade é de um caso a cada 10 mil anos.

A referência que existia, até então, era a enchente de 1941, que acabou superada com folga. Em Canoas, por exemplo, o sistema de proteção foi feito com base nos números de 83 anos atrás e mais de dois terços da cidade acabaram inundados.

Mas erros nitidamente ocorreram, principalmente por omissão. Em Porto Alegre, o professor Gean Paulo Michel, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), aponta que a falta de manutenção e a negligência dos entes públicos contribuíram para o colapso no sistema de contenção de água, independentemente dos valores gastos nos últimos anos.

Outro ponto que precisa entrar no radar de toda a sociedade são os alertas dados pela ciência para a mudança climática em andamento. É preciso deixar teorias conspiratórias de lado, como a de que o Haarp manipula o clima global. As autoridades devem, sim, implementar medidas para prever os extremos ambientais. Eles estão cada vez mais recorrentes.

A tragédia do Rio Grande do Sul nos serve como um lembrete cruel da fúria da natureza e da necessidade de estarmos preparados para o futuro. É fundamental investir em infraestrutura resiliente, aprimorar os sistemas de alerta precoce e implementar políticas públicas que levem a sério as mudanças climáticas. Acima de tudo, é preciso agir com urgência e responsabilidade para evitar que desastres dessa magnitude se repitam.

O caminho para a reconstrução será longo e árduo, deve durar anos, mas a união e a solidariedade do povo gaúcho serão essenciais para superar essa fase difícil.

 

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postado em 10/05/2024 06:00 / atualizado em 10/05/2024 08:43
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