Nesta semana, de hoje a quinta-feira, a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) reúne, em Natal (RN), 165 estudantes de todo o país para o Encontro do Hotel de Hilbert — paradoxo do infinito apresentado pelo alemão David Hilbert, em 1925. Durante os quatro dias, meninos e meninas do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio de instituições públicas e privadas participarão de gincanas, aulas e palestras, além da resolução de problemas — as melhores soluções serão apresentadas aos colegas e professores. O evento pode até parecer irrisório, porém é um exemplo de incentivo à educação, uma vez que vai além do aprendizado.
Os desafios que o grupo terá pela frente nessa imersão começaram a ser desvendados nas salas de aula. O caminho que levou os alunos ao evento, que está em sua 9ª edição, partiu do esforço de cada um deles. Mas, no panorama coletivo, a iniciativa representa a oportunidade de incentivar os jovens a se dedicarem ao aprimoramento dos estudos. Derrubar barreiras e debater temas, ampliando o conhecimento científico dos participantes e preparando-os para um alto desempenho profissional, são as propostas da iniciativa e que devem ser multiplicadas.
Diante de uma história de negligências, o gosto pelo ensino no Brasil precisa urgentemente ser estabelecido como rota para o desenvolvimento. As marcas de um percurso de avanços e retrocessos travam as conquistas pessoais e da sociedade. Em diversos segmentos, a impressão que passa é de que o país poderia estar em uma posição muito melhor se a educação fosse entendida como prioridade.
Políticas públicas não faltam. No entanto, a própria implantação e continuidade adequada deixam a desejar na maioria das situações. Desde o Plano Nacional de Alfabetização, elaborado por Paulo Freire para ensinar a escrita a adultos, e oficializado em 1964, só que encerrado menos de três meses depois por causa do golpe militar, são inúmeros os casos de projetos que ficaram pelo caminho.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2023, organizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o Brasil conta 9,3 milhões de analfabetos. O levantamento ainda aponta que 46% da população não tem escolaridade básica completa. São números extremamente comprometedores. Se a realidade dos adultos é preocupante, a situação que envolve crianças e adolescentes também apresenta elevada gravidade. Hoje, não bastassem os problemas de décadas seguidas, os efeitos colaterais da pandemia da covid-19 pioraram o quadro.
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a proporção de crianças de 7 anos que não sabiam ler nem escrever saltou de 20% para 40% de 2019 para 2022. Situação similar à de crianças de 8 anos: de uma taxa de 8,5%, em 2019, houve elevação para 20,8%, em 2022. Para as crianças de 9 anos, a estatística cresceu de 4,4% para 9,5%, de 2019 para 2022. Sinais de alerta para todos. Afinal, a leitura é o ponto de partida para o universo do aprendizado.
As dificuldades que permeiam a educação são gigantes, mas não podem ser paralisantes. Fazer os jovens chegarem à OBMEP, e em muitas outras ações do tipo, precisa estar no topo das prioridades. A negligência na educação destrói os sonhos individuais e da nação. Não é possível alcançar o sucesso em nível nacional sem que a maioria da população passe com eficiência pelas páginas dos livros.
Cabe refletirmos sobre quais saídas devem ser encontradas para a melhoria da educação. O Brasil tem que desatar os nós dos níveis fundamental ao superior. São inúmeros fios interligados que desenrolam em várias questões, mas também em possibilidades diversas. Corrigir os erros, mergulhar nos acertos e progredir são metas a serem cumpridas pela sociedade. Tratar o ensino com respeito e seriedade é a lição.