REDES SOCIAIS

Análise: os memes do caso do idoso morto no Rio não têm graça

Compartilhar memes e conteúdos mórbidos contribui sobremaneira para a propagação do ódio e da insensibilidade. As redes sociais desempenham um papel importante nos tempos modernos. São ferramentas poderosas para o bem, mas, ao mesmo tempo, ajudam a disseminar ódio e a negatividade

O caso do idoso morto dentro de uma agência bancária no Rio de Janeiro é mais um exemplo do linchamento virtual praticado nas redes sociais. Desde a noite de terça-feira, quando viralizou o vídeo de Paulo Roberto Braga, de 68 anos, sem sinal de vida, o prejulgamento tomou conta dos internautas brasileiros. Sem qualquer investigação prévia da polícia, milhares de usuários condenaram a atitude da cuidadora que o acompanhava. Uma parcela expressiva falava em tentativa de golpe sem sequer conhecer os detalhes da história.

Simultaneamente, uma enxurrada de memes em relação ao assunto tomou conta dos smartphones. E nitidamente os usuários perderam a mão. Não há graça nenhuma fazer piada nessa situação. É um desrespeito com o morto e os familiares dele. Para tornar ainda mais grave o problema, dezenas de empresas passaram a produzir vídeos com funcionários imitando o caso. Sou totalmente contra esse marketing mórbido em troca de likes.

O humorista Fábio Porchat, por exemplo, foi bastante criticado nas redes sociais ao imitar, ontem, o caso durante participação no programa global Encontro. Antes da entrevista, o apresentador aproveitou para "brincar" com a situação, fazendo referência à estreia da nova temporada de Que História É Essa, Porchat?. Uma mulher da plateia se fingiu de morta e o comediante perguntou a ela o que achou do episódio de estreia, enquanto movimentava a cabeça e os braços da senhora — como ocorreu na agência bancária.

A banalização da morte e a busca desenfreada por likes expõem a fragilidade da empatia e a desumanização dos dias atuais. Por trás do vídeo viralizado, existe uma história real, uma vida que se perdeu. A cuidadora que o acompanhava — que diz ser sobrinha do idoso, mas que as investigações apontam se tratar de uma prima que morava perto — está presa preventivamente, mas não é acusada formalmente de nenhum crime. Cabe apenas às autoridades competentes determinar os fatos e responsabilidades. A tendência é que responda criminalmente por vilipêndio de cadáver e furto.

Compartilhar memes e conteúdos mórbidos, no entanto, contribui sobremaneira para a propagação do ódio e da insensibilidade. As redes sociais desempenham um papel importante nos tempos modernos. Serviram para dar voz a grupos que viviam à margem da sociedade. Por isso, as plataformas digitais precisam ser usadas para promover a solidariedade e a busca por justiça. São ferramentas poderosas para o bem, mas, ao mesmo tempo, ajudam a disseminar ódio e negatividade. É dever de cada um de nós usar as redes sociais de forma responsável e ética.

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