André Gustavo Stumpf
A notícia mais importante da semana não apareceu em Brasília, mas no litoral norte do Brasil, onde foi descoberta acumulação de petróleo em águas ultraprofundas na Bacia Potiguar, entre o Rio Grande do Norte e o Ceará. A descoberta pode indicar grande potencial de óleo em toda a Margem Equatorial, área da nova fronteira exploratória que é composta, além da Potiguar, pelas bacias da Foz do Amazonas, Pará, Maranhão e Ceará. Essa informação, pouco divulgada, significa criação de empregos e perspectiva de desenvolvimento de uma vasta região, ao contrário das fofocas parlamentares, que só servem para alimentar intrigas políticas.
A Petrobras informa que o reservatório Anhangá é do tipo turbidítico, constituído por arenito depositado por correntes marítimas há milhões de anos durante a separação dos continentes, em tempos imemoriais. É uma evidência de que o lençol é do mesmo tipo e qualidade do descoberto na Guiana, no Suriname, além de Costa do Marfim e Gana, na África. Essa é uma oportunidade única, uma verdadeira janela, que se abre para o desenvolvimento de uma área pobre e esquecida pelo governo central.
A chamada Margem Equatorial vai desde o Amapá até o Rio Grande do Norte. Trata-se de reservatório de petróleo semelhante, em tamanho e qualidade, ao famoso pré-sal, que vem ajudando o Brasil a manter elevados ganhos na balança comercial, resultado da exportação de petróleo, uma novidade na história da economia brasileira. Todos os estados da Região Norte poderão se habilitar a receber os royalties do petróleo explorado pelas empresas que trabalham nesse poderoso ramo, em que corre muito dinheiro e, cada vez mais, exige tecnologia de ponta.
A pequena Maricá, no estado do Rio de Janeiro, é um exemplo de como o petróleo modifica a vida de uma cidade. Além de obras públicas vistosas, a prefeitura criou uma moeda chamada de Mumbuca, que é livremente aceita no comércio, porque tem lastro. Tem valor. E agora uma empresa aérea acaba de anunciar voos entre Maricá, São Paulo e Brasília. Para os moradores de Maricá, a passagem custará entre R$ 100 e R$ 200, dependendo do destino. Nos dois casos, será aceito o pagamento em Mumbuca. Para o passageiro normal, que está fora dessa bolha de proteção, o custo da passagem é de R$ 1 mil. Macaé, mais ao norte, perto de Campos, é uma espécie de capital da operação do pré-sal. A cidade mudou muito, e para melhor, nos últimos anos. Também mantém voos regulares para diversos pontos do país. E organiza um bom carnaval, naturalmente, bancado pela prefeitura.
Ao contrário, a Região Norte do Brasil é largada há séculos. Até 1960, o acesso a Belém do Pará só era possível por intermédio de navios da navegação costeira ou de avião, basicamente aqueles que faziam a rota para os Estados Unidos, obrigados a pousar na capital paraense para reabastecer. Somente no governo JK foi aberta a Belém Brasília. As rodovias para o noroeste, no caso Rondônia e Acre, basicamente a BR 364, foi aberta no governo militar seguindo os postes fixados pelo marechal Rondon quando fez a ligação telegráfica do Mato Grosso com o resto do Brasil. Até então o Norte era esquecido e desconhecido. Quem chegou a essas regiões e se estabeleceu com comércio de primeiras necessidades ficou rico. A região do Brasil que mais cresce é o Centro-Oeste.
O Norte quer participar dessa festa. Quando o pré-sal deu os primeiros sinais de que produziria riqueza, nenhuma voz se lembrou de defender a natureza no litoral do Rio de Janeiro, São Paulo ou Espírito Santo, estados largamente beneficiados pelos royalties. As plataformas de petróleo estão em alto-mar produzindo para o mundo inteiro, na chamada Amazônia Azul, o mar territorial brasileiro. Não há notícias de vazamentos relevantes. A Petrobras informa que perfurou mais de mil poços de petróleo e nunca provocou nenhum prejuízo para a sociedade nacional. A disputa entre os extremistas da conservação ambiental e os que pretendem criar empregos na região será grande. A área de petróleo e gás promete criar mais de 300 mil empregos nos próximos anos.
Para se ter uma noção do atraso, os limites do Brasil e da Guiana Francesa foram fixados por negociação do Barão do Rio Branco com o governo francês, que desejava abocanhar a metade do Amapá, no início do século 20. Concluída a negociação, o Barão solicitou ao governo federal que fosse aberta a estrada de Macapá até Oiapoque, na fronteira com o território ultramarino da França. A estrada existe, dois terços dela estão asfaltados e um terço do meio está abandonado há quase um século. É um lamaçal. Há um velho aeroporto na cidade de Oiapoque sendo revitalizado pela Petrobras. Macapá só é lembrada por seu estádio de futebol ser cortado ao meio pela linha imaginária do Equador. Metade do gramado fica no Hemisfério Sul, outra metade no Hemisfério Norte.
Jornalista*