Impostos

Reforma Tributária: por que o setor que mais emprega será penalizado?

De acordo com o novo modelo, as alíquotas passarão para 27% a 33%, sem créditos a compensar

*José Cesar da Costa

A promulgação da Emenda Constitucional 132, em dezembro de 2023, foi um passo histórico para a construção de um novo modelo tributário no país. A primeira reforma ampla do sistema de tributação realizada sob nossa Constituição levou mais de 30 anos e ainda passará por um longo e necessário caminho de construção nos próximos meses. Os parlamentares se debruçam sobre as propostas de projetos de lei complementar que regulamentarão vários pontos da emenda constitucional. Ou seja, foi dada a largada em busca de apoio, soluções e melhorias para cada um dos setores da economia.

Para o setor de comércio e serviços, existem alguns pontos de atenção que estão sendo discutidos com os parlamentares e que carecem de melhorias para atender este que é o maior gerador de emprego e renda do país. Um deles diz respeito às alíquotas. Hoje, uma empresa do setor de serviços, por exemplo, paga entre 2,65% e 8,65%. Dentro da Reforma Tributária, as alíquotas passarão para 27% a 33%, sem créditos a compensar. Nessa nova realidade, haverá aumento em relação, principalmente, ao setor da indústria. É fundamental que se construa agora uma compensação ao setor para que se diminua o impacto do aumento.

Cabe, também, sem sombra de dúvidas, maior simplificação do sistema de tributação. Chama atenção ainda a inserção, no texto constitucional, de uma "trava", ou seja, uma previsão para possível redução do valor das alíquotas do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS) em 2030 e 2035, caso ocorra aumento de arrecadação. Sem uma compensação, a mudança trará consequências graves para os setores de comércio e serviços.

Outra preocupação é em relação ao Simples Nacional, em especial às micro e pequenas empresas. A empresa que está no Simples pode continuar a pagar a guia como hoje, sem qualquer mudança. No entanto, pelo texto da reforma, as micro e pequenas empresas também poderão excluir o IBS e CBS da cesta de impostos pagos no Simples. O recolhimento em separado será opcional e permitirá que elas acumulem créditos tributários.

Tirar os impostos do Simples pode ser vantajoso para algumas empresas. No entanto, para outras, poderá ocasionar mais obrigações acessórias e reduzir a competitividade do regime. Assim, a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), que participa dos debates dos grupos de trabalho, criados pelas frentes parlamentares de diversos setores produtivos no Congresso Nacional sobre a regulamentação da Reforma Tributária, defende a criação de crédito presumido para a CBS, que substituirá o PIS e Cofins, para as empresas dentro do Simples que estão no meio da cadeia produtiva.

É fato que o setor pode sofrer novamente um aumento da carga tributária. E o que mais chama a atenção é a falta de estudos e análises dos impactos econômicos dos aumentos de alíquotas no setor de comércio e serviços. Existe um grande desafio por parte do governo em atender às expectativas de diversos setores, que esperam simplificação e carga tributária mais competitiva, mas, ao mesmo tempo, o Estado busca aumento das fontes de arrecadação. Nessa queda de braço, lembramos que, ao aumentar a carga tributária do setor responsável por 70% do PIB do país, diminuirá, sem sombra de dúvidas, a nossa competitividade. O país necessita de uma reforma ampla, mas que ela esteja casada com uma Reforma Administrativa que diminua o peso da máquina pública e garanta o uso racional dos impostos. Essa é urgente e necessária para aumentar a eficiência dos serviços públicos.

O governo federal tem se empenhado em adotar medidas para a boa gestão dos recursos do país e alcançar o equilíbrio fiscal. Nesse sentido, torna-se ainda mais relevante a necessidade de termos ajustes nas contas públicas e uma boa aplicação dos recursos arrecadados, mas que isso não passe por mais aumentos de carga tributária para o setor produtivo. Sem saber até onde vai chegar o ímpeto arrecadatório do governo, as empresas não se sentem seguras para investir. Essas são metas fundamentais para a atração de investimentos e o crescimento sustentável do Brasil.

O caminho para termos uma reforma que reduza a complexidade do sistema tributário foi aberto, mas não há mais espaço para aumento de carga tributária. Mesmo que os efeitos sejam sentidos a longo prazo, com retorno aos serviços essenciais da população como um todo, não restam dúvidas de que as empresas de comércio e serviços precisam de uma atenção neste momento. O setor não suportaria um aumento de alíquotas.

Cabe, agora, ao Congresso Nacional diminuir as lacunas que ficaram para termos efetivamente uma reforma que possibilite ao país um sistema moderno, mais racional, desburocratizado e que respeite as realidades setoriais e regionais.

Presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL)*

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