Música

Eterna musa

A disputa pela herança da cantora, protagonizada pelo fiho adotivo e pela viúva, impede que os fãs de Gal Costa ouçam o albúm com o registro do show que ela fez, pelo Festival de Coala, no Memorial da América Latina, em São Paulo

A cantora Gal Costa era um dos principais nomes da música brasileira.  -  (crédito: Reprodução/Instagram/@galcosta)
A cantora Gal Costa era um dos principais nomes da música brasileira. - (crédito: Reprodução/Instagram/@galcosta)

A disputa protagonizada por Gabriel Costa Burgos, filho adotivo de Gal Costa, e Wilma Petrillo, segundo consta, viúva da cantora, pela herança da estrela, chegou à Justiça. Isso tornou-se um impeditivo para que os admiradores da saudosa artista baiana e o público, como um todo, ouçam o álbum com o registro do As várias pontas de uma estrela, show que ela fez em setembro de 2022, pelo Festival Coala, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

O disco a ser lançado pela Biscoito Fino traz no repertório, entre outras Baby e Um Índio (Caetano Veloso), Sorte (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos), Um dia de domingo (Michael Sullivan e Paulo Massadas), Vapor barato (Jards Macalé e Waly Salomão); e composições de jovens talentos, entre as quais Quando você olha pra ela (Mallu Rodrigues) e Lua comanche (Zé Ibarra).

É algo que levará os incontáveis fãs a guardar na memória afetiva essas canções eternizadas pela imortal musa da Tropicália no último — e agora histórico — espetáculo. Mas a fruição deste prazer precisará ser adiada, até que haja uma decisão judicial sobre o imbróglio.

Tive o privilégio de acompanhar a trajetória artística de Gal, desde que ela foi apresentada ao Brasil pelo Festival da TV Record de 1968, quando interpretou Divino maravilhoso, de Caetano Veloso. Em cena a, até então, cândida bossanovista incorporou uma roqueira ao soltar a voz e, com veemência, gritar: "É preciso estar atento e forte/ Não tenho tempo de temer a morte...". Isso em plena ditadura militar.

Estava no Teatro Tereza Rachel, em Copacabana, no verão carioca de 1972, quando Gal encantou a plateia com o icônico Fa-Tal. No espetáculo ela passeava por um roteiro que incluía Como dois e dois são cinco (Caetano Veloso), Antonico (Ismael Silva), Dê um rolê (Moraes Moreira e Luiz Galvão), Sua estupidez (Roberto e Erasmo Carlos) e Pérola negra (Luiz Melodia).

Dona da mais bela voz da música brasileira, Gal fez apresentações marcantes em Brasília. Entrevistei-a antes da maioria dos shows e assisti a todos. Recordo-me com saudade de Índia (1973/ Teatro da Escola Parque), Gal Tropical (1979/Piscina Coberta), Gal Costa canta Tom Jobim (1987/ Pavilhão de Eventos do Parque da Cidade), O Sorriso do Gato de Alice (1993/ Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional), A pele do futuro (2019/ Centro de Convenções Ulysses Guimarães) e As várias pontas de uma estrela (2022/ Eixo Cultural Ibero-Americano).

Não custa lembrar que Caetano Veloso compôs para ela Flor do Cerrado, canção que no último verso diz: "E na próxima vez que eu for a Brasília/ Eu trago uma flor do Cerrado pra você".

 


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postado em 30/04/2024 05:00
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