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Unidos pela saúde: a importância da vacinação no combate ao HPV

É crucial que governos, ONGs, profissionais de saúde e cidadãos unam forças para eliminar o câncer de colo do útero e também para fortalecer nossas comunidades contra futuras ameaças à saúde

. -  (crédito: Paulo Pinto/Agência Brasil)
. - (crédito: Paulo Pinto/Agência Brasil)

LEONARDO WEISSMANN*

As campanhas de imunização do século passado não são apenas capítulos da história, elas lançam luz sobre nossos desafios atuais. A erradicação da varíola e a quase eliminação da poliomielite são marcos que destacam a importância vital das vacinas não só na redução da mortalidade infantil, mas também na prevenção de doenças em todas as idades. Por exemplo, enquanto o poliovírus selvagem infectava cerca de 350 mil crianças anualmente em 1988, a incidência da doença hoje é reduzida em mais de 99% globalmente graças a esforços massivos de imunização apoiados por governos e organizações como o Rotary International.

Recentemente, as vacinas têm sido alvo de diversas campanhas negativas que questionam sua segurança e eficácia, colocando em risco a saúde pública. Contra esse cenário, a Semana Mundial de Vacinação, na última semana de abril, torna-se um momento essencial para reforçar a importância das vacinas. Esse evento global destaca a necessidade de agirmos juntos para garantir que pessoas de todas as idades continuem sendo protegidas contra diversas doenças

Neste momento, focaremos no papilomavírus humano (HPV), um vírus ligado a uma série de cânceres, incluindo o de colo de útero — o terceiro mais comum entre mulheres no Brasil, atrás apenas dos cânceres de mama e colorretal. O HPV também está associado a cânceres de vulva, vagina, pênis, ânus e orofaringe. A infecção por esse vírus é uma das mais comuns entre as doenças sexualmente transmissíveis, com cerca de 200 tipos conhecidos, dos quais aproximadamente 40 afetam a região genital. O HPV é transmitido principalmente por contato sexual e pode ser transmitido mesmo na ausência de sintomas visíveis.

Desde sua introdução no calendário do SUS em 2014, a vacina contra o HPV tem sido uma ferramenta crucial no Brasil para combater essa infecção. Com uma eficácia de até 98% na prevenção de cânceres associados ao HPV quando administrada antes do início da atividade sexual, a vacina é essencial para pré-adolescentes de ambos os sexos. A eficácia reduz para 44% em indivíduos que já iniciaram vida sexual, sublinhando a necessidade de vacinação precoce. Na Austrália, por exemplo, um robusto programa de vacinação levou à queda de mais de 90% nas infecções por HPV e verrugas genitais.

Além disso, a hesitação vacinal representa um obstáculo significativo, muitas vezes, alimentada por mitos e desinformação sobre os efeitos colaterais das vacinas. Em todo o mundo, essa hesitação é exacerbada pela preocupação dos pais com a futura vida sexual de seus filhos, mostrando a necessidade urgente de campanhas de informação mais eficazes e sensíveis ao contexto cultural. Esses desafios são acentuados em regiões com acesso limitado à saúde e à educação.

Atualmente, a vacina contra o HPV é disponibilizada gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças de 9 a 14 anos. Em uma iniciativa recente para aumentar a cobertura vacinal, o Ministério da Saúde do Brasil adotou a administração de uma única dose, alinhando-se às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e facilitando o acesso. A vacina também está acessível na rede privada para pessoas de todas as idades.

A vacinação contra o HPV transcende a saúde pública, é um direito humano fundamental que demanda um engajamento mais amplo e ativo de todos nós. É crucial que governos, ONGs, profissionais de saúde e cidadãos unam forças para eliminar o câncer de colo do útero e também para fortalecer nossas comunidades contra futuras ameaças à saúde.

Durante a Semana Mundial de Imunização, destacamos o papel essencial das vacinas na proteção de vidas. Encorajamos você a se envolver ativamente: eduque-se sobre os benefícios das vacinas, participe de iniciativas de saúde pública e ajude a disseminar informações confiáveis. Juntos, podemos enfrentar a hesitação vacinal e garantir um futuro mais saudável para as próximas gerações. Torne-se um defensor da saúde pública, contribuindo para um mundo mais seguro e protegido.

 *Médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, consultor técnico da Comissão Nacional pela Erradicação da Pólio do Rotary Internacional e professor da Universidade de Ribeirão Preto (SP)

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postado em 27/04/2024 06:00
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