É impossível não se abalar, não ficar com pesar no coração diante do caso do menino Carlos, 13 anos, de Praia Grande (SP). Ele morreu no último dia 16, uma semana depois de ser agredido por colegas na escola onde cursava o 6º ano do ensino fundamental.
Para a família, a morte foi causada pela brutalidade praticada contra o adolescente. O relato é de que, no dia 9, dois estudantes pularam nas costas dele, o que teria entortado sua coluna. Com muitas dores, foi levado seguidas vezes pelo pai para atendimento em unidades de saúde, mas somente o medicavam e o liberavam. O quadro piorou. Passou a ter dificuldade de respirar e não conseguia mais andar. Foi internado e entubado. Ante a gravidade dos sintomas, acabou transferido para uma Santa Casa, onde sofreu três paradas cardiorrespiratórias e não resistiu.
No atestado de óbito, consta que Carlos morreu em decorrência de broncopneumonia, mas o laudo necroscópico, que ficará pronto em até 90 dias, apontará qual foi a causa dessa inflamação dos pulmões. Se a vida de Carlos foi destruída pela violência, só o laudo poderá dizer. Mas o que se sabe — por relatos e vídeos de agressões — é que a escola tinha virado um martírio para ele. Sofria bullying e foi atacado outras vezes por colegas no "banheiro da morte" — como os estudantes chamam o local. Imagine o horror de um menino que vai todos os dias para a aula sabendo que será atormentado ou machucado. E justamente em um lugar onde deveria estar protegido.
A família disse que, no mês passado, registrou boletim de ocorrência. Também pediu à escola uma reunião com os responsáveis pelos agressores e imagens das câmeras, mas — segundo o pai — a direção da instituição recusou e não tomou providências. O caso de Carlos é chocante, revoltante e mostra a urgência de lutarmos contra esse fenômeno social, o bullying, tão arraigado quanto grave, com consequências devastadoras, especialmente à saúde mental de crianças e adolescentes.
É necessário um esforço conjunto do poder público, dos educadores e da sociedade. Precisamos de ações efetivas para prevenir, combater e punir episódios de bullying, além de medidas de conscientização, não só nas escolas, mas de toda a população, e apoio às vítimas.
Pais ou responsáveis, principalmente, têm papel imprescindível de orientar os filhos sobre respeito às diferenças, o cuidado com o outro, a empatia. Informarem-se, em conversas periódicas com eles, se sofrem intimidação sistemática ou mesmo se são agressores — conscientizar que humilhar, xingar ou agredir uma pessoa não é, sob hipótese nenhuma, uma "brincadeira". O combate ao bullying, por sua complexidade, depende do engajamento de todos nós. Há muitos Carlos sofrendo neste momento. É preciso ação, com urgência.
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