MALU PAIVA*
Estamos apenas no primeiro trimestre do ano e enfrentamos a terceira onda de calor extremo. Com o aumento das temperaturas, cresce também a percepção da crise climática e a urgência de concentrar esforços na conservação e recuperação de áreas florestais. O Brasil pretende restaurar 12 milhões de hectares de floresta e outras paisagens até 2030, conforme estabelecido no Plano Nacional para Restaurar Vegetação Nativa (Planveg). Além disso, o Plano ABC prevê a restauração de 15 milhões de hectares de áreas degradadas em todo o país no mesmo período.
Grandes desafios demandam soluções igualmente grandiosas, mas também inovadoras. Em 2020, em consonância com as metas governamentais, a Vale se propôs, de forma voluntária, a conservar 400 mil hectares de áreas e a recuperar outros 100 mil hectares, também até 2030. A empresa ajuda a proteger 1 milhão de hectares pelo mundo. Deste total, 800 mil hectares estão na Amazônia, área equivalente a cinco vezes a cidade de São Paulo, e que representam um estoque de 490 milhões de toneladas de carbono equivalente.
A parcela do programa destinada à recuperação é liderada pelo Fundo Vale, uma associação sem fins lucrativos, que atua como um veículo de fomento e investimento de impacto voltado para a geração de impacto socioambiental positivo. As Soluções Baseadas na Natureza (SbN), como sistemas agroflorestais, silvipastoris e agrossilvipastoris, guiam a maioria das iniciativas apoiadas pelo Fundo Vale em florestas.
A meta de recuperação de 100 mil hectares acabou se tornando um dos maiores projetos privados de restauração de ecossistemas por meio de sistemas sustentáveis de produção em curso no Brasil. Com o propósito de inspirar projetos similares em empresas comprometidas com a neutralização de carbono de suas operações, dividimos aqui os pilares que compõem nossa estratégia.
Aportar e destravar o capital financeiro. Facilitar o acesso a recursos financeiros e aos mercados para iniciativas que sustentam a floresta é urgente para atingir a escala necessária para a conservação e restauração das florestas. Atuamos na articulação com investidores para fomentar arranjos de blended finance, que combinam recursos de filantropia com investimentos públicos e privados.
Catalisar negócios de impacto. Apoiar para que os negócios operem em uma cadeia de valor sustentável, acelerando o desenvolvimento, a maturação e o crescimento de startups voltadas para a bioeconomia e que valorizem parcerias com produtores locais.
Construir capacidades. É possível fazer análises preditivas de dados para prevenir o desmatamento ilegal antes que ocorra. É o que faz a plataforma PrevisiA, desenvolvida pela Imazon com o apoio do Fundo Vale, por meio de computação em nuvem e inteligência artificial. Ao identificar potenciais riscos na Amazônia, a plataforma disponibiliza essas informações gratuitamente para apoiar ações preventivas e auxiliar na tomada de decisões por parte dos gestores públicos. Produzir e disseminar conhecimento é o pilar pelo qual multiplicamos o impacto positivo. A PrevisiA é resultado disso.
Atuar em coalizões. Nossa atuação contempla parcerias com gestoras de fundos, fundos de investimento, organizações socioambientais, empresas prestadoras de serviço, bancos de desenvolvimento, organizações dinamizadoras, bancos de desenvolvimento, agências multilaterais, órgãos públicos ambientais, entidades de inovação e empresas com fins lucrativos, incluindo off takers da bioeconomia.
Por meio desses quatro pilares, o Fundo Vale construiu um ecossistema de impacto que sustenta nossa tese de que não basta apenas plantar árvores e criar reservas; é preciso gerar valor ambiental, social e econômico. É o que está acontecendo com a startup Belterra, que recebeu apoio do Fundo Vale nas quatro frentes.
A empresa implantou 2 mil hectares de sistemas agroflorestais em pequenas e médias propriedades rurais nos biomas da Amazônia e da Mata Atlântica, auxiliando na preservação de 20 mil hectares e apoiando o desenvolvimento socioeconômico dessas comunidades. Resultados consistentes na recuperação e conservação de florestas requerem uma abordagem holística, que considere e integre particularidades ambientais, sociais e econômicas. E isso só é possível com estratégias inteligentes de alocação de recurso.
*Vice-presidente de sustentabilidade da Vale
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br