Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal
Sou um incorrigível quando se trata de exaltar Brasília, e governar o Distrito Federal foi, sem sombra de dúvidas, o desafio mais provocante a que me propus desde quando deixei a maternidade do Hospital de Base, onde nasci, ao lado de tantas crianças transformadas hoje em cidadãs e cidadãos de uma cidade que amadurece sem nunca perder o seu magnetismo.
Assentamentos, superquadras e avenidas inicialmente abertos, além dos monumentos e das edificações para administração, são símbolos, ainda hoje, do esforço dos construtores para dar condições de domicílio aos pioneiros aqui instalados — entre os quais, incluo os meus familiares, vindos do Piauí — e a outros tantos a chegar em grandes levas, após se reconhecer, 64 anos atrás, que o Brasil conseguira, enfim, erguer uma nova capital na então árida paisagem do Planalto Central.
Esse esforço continua até hoje, num processo que, tenho a impressão, está longe de acabar, pois as necessidades de um mundo em transformação exigem, além das adequações necessárias, correções e acréscimos ao projeto original, o comprometimento cada vez maior dos gestores com o bem-estar da população a que serve. Sou afeito a desafios, e, uma vez que eles estão aí, exigindo o envolvimento de toda a administração, e, por hierarquia, mais de mim, resolvi enfrentá-los sem assombro.
Para começar, em um país de desigualdades profundas e parcos investimentos em infraestrutura, não é de estranhar o abismo que separa cidades de diferentes regiões no quesito saneamento básico. Porém, os dados do Censo estão aí para mostrar o quanto avançamos, ficando o Distrito Federal no nível de cidades europeias, atrás apenas de São Paulo em saneamento, coleta e tratamento de esgoto. Enquanto o senso comum (que melhor seria chamar de incomum) leva muitos políticos a postergar obras que não têm a mesma visibilidade de pontes e praças, nós não medimos esforços numa empreitada muitos metros abaixo do chão para acabar com o trauma dos alagamentos durante as chuvas. Jamais se investiu tanto em infraestrutura.
Estar no topo dentre as metrópoles com melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ser única cidade brasileira a ocupar lugar no ranking do jornal americano The New York Times como um dos melhores destinos do mundo e, ao mesmo tempo, ostentar o menor índice de analfabetismo da Federação (1,7%, contra os 5,6% que representam a média nacional) são fatos que precisam ser compreendidos como resultados de políticas públicas efetivas, que permitiram ao DF, nos dias atuais, criar a maior rede de proteção social do Brasil.
Isso representa uma conquista para um povo que fez por merecê-la — trabalhou, confiou, acreditou. Nessa terra que tão bem acolheu milhares de pessoas sofridas e lutadoras vindas de todas as regiões, o futuro continua promissor. Foram elas que edificaram palácios, ministérios, igrejas, catedral. Cavaram o lago, levantaram casas, prédios residenciais, abriram e asfaltaram largas avenidas.
E, embora diferenciados em suas matrizes culturais, plasmaram uma identidade, uma só gente, participando de um corpo de tradições comuns. A Brasília que compartilhamos hoje há muito deixou de ser a "ilha da fantasia" de que se falava no passado, com desdém e descrédito, pelos insatisfeitos com a transferência da capital. Brasília representa uma forma singular de organização social, a espantar até mesmo os que chegaram impregnados pela poeira vermelha. Terceiro maior aglomerado urbano do país, é, na sua essência, diferente de tudo o que vemos por aí. Inclusive, pela sua alegria e vontade de felicidade, que nos alenta e motiva a continuar trabalhando.
Já ouvi, em diversas ocasiões, que Brasília, nos últimos anos, voltou a ser um canteiro de obras, muitas vezes, atrapalhando a rotina dos deslocamentos de carros. No entanto, desconheço quem não admita a sua necessidade. Sem falar no alcance social de cada uma dessas obras, nos empregos que elas impulsionam, na dinâmica da mobilidade e na visível melhoria da qualidade de vida da população. Nenhuma obra foi ou está sendo concebida para atender outros interesses senão esses. Elas resultam de estudos aperfeiçoados a partir das sugestões da comunidade, do contato direto do governo com a população pobre — essa sempre enriquecedora experiência de sentir e ouvir os que mais necessitam de atenção. Você é capaz de fazer um programa de governo inteiro e tirar lições importantes conversando com pessoas anônimas na feira, por exemplo.
Hoje, mais do que nunca, estou convencido de que os avanços que tivemos em várias áreas sociais se devem fundamentalmente à força reivindicadora das pessoas simples, do povo. Por essa razão, não canso de repetir que nosso guia são as pessoas, suas vidas, pois cuidando do seu bem-estar estamos concretizando o sonho de Dom Bosco e nos fazendo merecedores do legado de Juscelino Kubitschek, Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Bernardo Sayão, Israel Pinheiro, e, entre tantos nomes ilustres, o maior de todos — o candango.
Muitos anos de vida, Brasília!
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