A velocidade com que a mudança do clima vem ocorrendo mostra claramente um desequilíbrio de um processo natural do planeta. Mais ainda, de acordo com o IPCC AR6, relatório que reúne cientistas do mundo todo, as ações humanas, em especial a queima de combustíveis fósseis, é a principal causa dessa alteração.
Os países têm debatido como combater as alterações climáticas desde a década de 1970, mais fortemente a partir da década de 1990, com vários acordos importantes, incluindo o Protocolo de Quioto e o famoso Acordo de Paris. Mas, apesar dos esforços, cientistas do IPCC consideram que, atualmente, a temperatura média da Terra aumentou 1,1ºC, e as consequências já são significativas.
O custo desse impacto é uma realidade também para o mundo corporativo e deve entrar na matriz de risco das empresas. Além de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE), as companhias precisam se adaptar às consequências que já afetam os negócios.
O Fórum Econômico Mundial estima que o custo global dos danos causados pelo clima ficará entre US$ 1,7 trilhão e US$ 3,1 trilhões por ano, até 2050. Isso inclui impactos em infraestruturas, propriedades, agricultura e também na saúde humana. Prevê-se, ainda, que esse custo aumente ao longo do tempo, de forma proporcional à gravidade do cenário.
Considerando a urgência do assunto, desde a COP 26 vimos um aumento de empresas se comprometendo a serem "Net Zero", compreendendo esforços para diminuir em até 90% as emissões de GEE e a compensação do restante. Dessa forma, a ação humana não mais emite, e o planeta não aquece mais. Bonito na teoria, difícil na realidade.
A cada cinco anos, os países devem avaliar o seu progresso na implementação do Acordo de Paris por meio de um balanço global. Mas o primeiro relatório, divulgado em 2023, alertou que "o mundo não está no caminho certo para cumprir os objetivos de longo prazo".
Em um cenário de emergência, governos ao redor do mundo iniciaram um reforço para que as empresas cumpram com seu papel na descarbonização por meio de regulamentações cada vez mais exigentes. O conhecido Green Deal europeu, pacto ecológico que inclui a taxação de carbono para empresas que exportam para a Europa, ou mesmo o aumento de mercados regulados de carbono em países como China, Coreia e Colômbia mostram que os países estão correndo atrás do prejuízo.
No Brasil, apesar de ainda estarmos no debate legislativo para um mercado regulado oficial, temos normas que exigem que empresas reportem, monitorem e expliquem — ou seja, uma regulamentação proativa que quer, de fato, entender não só números, mas a gestão do tema.
Portanto, o setor produtivo é parte do problema, mas também sofre com os impactos. Por isso, a mudança climática precisa estar na estratégia corporativa, com a devida compreensão e o entendimento técnico para não afetar a reputação da empresa. Capacitar equipe ou ter um acompanhamento de especialistas é essencial. É preciso também ter definido qual o objetivo principal da empresa: ser Net Zero? Responder a legislações, orientações estruturadas e relatórios para o mercado? Alinhar expectativas de investidores? Essa clareza é decisiva para os próximos passos.
Mas nada disso é tão importante quanto ter o assunto como prioritário na mesa do alto escalão, porque a mudança do clima não é um assunto apenas de áreas de sustentabilidade. É um tema de gerenciamento de riscos, de compliance, de estratégia. Se a alta liderança não tem o assunto dentro de sua matriz de prioridades, muito dificilmente a empresa conseguirá lidar com o clima de forma eficiente e eficaz. E isso investidores farejam com facilidade.
*CAMILA CHABAR, especialista em clima e coordenadora do curso estratégia climática para negócios da Trevisan Escola de Negócios
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