Na semana passada, o meu sogro resgatou, no meio da rua, no Guará 1, um cão, da raça shitzu, aparentemente de idade avançada. Já era fim de tarde e ele o levou para casa, onde há três outros pets — sendo dois deles da mesma raça, porém filhotes, resgatados na rua em outubro do ano passado. No dia seguinte, ele saiu às ruas em busca de alguém que certamente teria perdido seu bichinho e, provavelmente, estaria em desespero. Essa pessoa foi encontrada, porém, para nossa surpresa, o tutor do bichinho admitiu que o jogou na rua propositalmente, por não querer mais um animal velho e doente.
A Confederação Brasileira de Proteção Animal (CBPA) mostra que há mais de 1,5 milhão de cães e gatos pelas ruas do Distrito Federal — mas não é preciso checar pesquisa para constatar essa realidade. Nessa estatística, faz parte o Kibe — o cãozinho abandonado em questão — e também faria, certamente, o Aquiles/Scooby, o vira-lata — também velhinho — que se tornou meu filho canino há exatos dois anos, quando surgiu na porta da nossa casa, também no Guará 1, em meio a um temporal, e foi acolhido por nós.
Em ambos, há um ponto em comum. Além da idade, uma deficiência: enquanto o shitzu Kibe tem um problema no olho, Aquiles/Scooby estava com uma ferida na pata traseira. De acordo com a veterinária, após uma consulta, o cão havia passado por uma cirurgia, e isso indica que, um dia, ele teve um lar. Ou seja: os dois bichos foram rejeitados após começarem a apresentar enfermidades. E essa parece ser uma prática comum no mundo animal: deixou de ser jovem e saudável, não há mais interesse.
Só que abandonar animais nas ruas, além de ser cruel pra cachorro, é considerado crime. A Lei nº 14.064/2020 prevê de dois a cinco anos de reclusão — além de multa e perda da guarda — a pena para quem maltratar cães e gatos. Caso o crime resulte na morte do animal, a pena pode ser aumentada em até 1/3. E, para quem não sabe, abandonar é uma forma igualmente desumana.
Os dois filhotes da raça shitzu que citei foram resgatados em uma situação de extrema perversidade. Em meio ao trânsito do SIA, em horário de rush noturno, um louco estava com uma caixa de papelão nas mãos, de onde retirava os bebês de uma ninhada e atirava-os em cima dos carros. Mikael e Noah conseguiram ser salvos dessa barbárie. Uma situação impiedosa, cuja lembrança ainda causa uma amarga revolta.
Estamos em plena campanha Abril Laranja, que conscientiza a sociedade contra a crueldade e o abandono de animais. Mas, infelizmente, apelos educativos e de fundo emocional não são capazes de impedir esses crimes. Para punir, entretanto, existe, desde o ano passado, a Delegacia de Repressão aos Crimes contra os Animais do País (Dema), que pode ser acionada, anonimamente, diretamente pelo número 197. Se presenciarmos crueldades dessa natureza, é nosso dever criminalizá-las.
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