Manipulação

Lama tóxica pelos dedos

Liberdade de expressão não significa sinal verde para disseminar, a torto e direito, fake news, discurso de ódio, misoginia ou racismo

pri-1201-opiniao Opinião Narrativa Fake News Negacionismo -  (crédito: Caio Gomez)
pri-1201-opiniao Opinião Narrativa Fake News Negacionismo - (crédito: Caio Gomez)

Liberdade de expressão não é liberdade para disseminar, a torto e direito, fake news, discurso de ódio, misoginia ou racismo. A extrema-direita confunde as duas coisas, totalmente antagônicas. Ou faz isso de caso pensado. Existe uma obliteração do bom senso ou uma hipocrisia usada como subterfúgio quando se utiliza as redes sociais para aprofundar a polarização. Foi assim durante as eleições de 2016 e de 2020 nos Estados Unidos, quando Donald Trump, apoiado por Steve Bannon, apostou as fichas no Twitter para espalhar mentiras sobre seus adversários. O ambiente virtual, volátil e poroso, tornou-se uma arma de peso para manipular a opinião pública. Sim, manipulação. Ainda que muitos seguidores da extrema-direita digam tratar-se de um recurso a mais de "informação".

No último governo, o uso das redes sociais para disseminar inverdades sofreu um boom, abastecido pelo gabinete do ódio. O então presidente passou a atacar livremente a imprensa e os jornalistas, enquanto cortejava "blogueiros" e "influenciadores sociais" que passaram a ser porta-vozes do Executivo. Enquanto isso, fomentou a ira da população ao que sua base política tratava de ditadura do Supremo Tribunal Federal. Discursos assim precisam ser motivo de repulsa. OsTres Poderes da República precisam ser respeitados, assim como o mecanismo de freios e contrapesos de qualquer democracia tem que ser valorizado. Cada poder exerce um controle sobre si e sobre os demais, de forma a preservar o sistema democrático. 

Chega a ser cômica a reação exaltada de políticos da extrema-direita ante as declarações do bilionário Elon Musk sobre o ministro Alexandre de Moraes e sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como se as declarações de um magnata sul-africano tivessem poder de influenciar a política brasileira. Se o ex-presidente era tratado como "mito" por muitos, agora, Musk passou a ser visto como "salvador", como o homem que resolveu confrontar a Justiça no Brasil. 

É urgente uma regulação das redes sociais, que se tornaram "terra de ninguém" e têm potencial de assentar, na sociedade, a cizânia, a polarização e a aversão à imprensa e à democracia. Em 2021, entrevistei a jornalista filipina Maria Ressa, dois dias depois de ser laureada com o Prêmio Nobel da Paz. Durante a conversa, Ressa disse que "nada pode bater as mentiras que vão em uma lama tóxica que escorre pelas mídias sociais" e acusou as plataformas de terem se transformado em "celeiros de fake news". Em um ambiente onde o fanatismo é alimentado pela extrema-direita, todas as atenções devem se voltar para as redes sociais e o WhatsApp. Para que a lama tóxica não corroa nossos valores maisrados. 

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postado em 10/04/2024 06:00
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