Sempre mantive-me atento aos movimentos que ocorreram na música popular brasileira desde a Jovem Guarda, liderada por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, na segunda metade da década de 1960. O programa, apresentado por eles na TV Record, era líder absoluto de audiência no horário e mantinha o espectador em frente ao aparelho de televisão no final das tardes de domingo.
Logo em seguida, os festivais promovidos pela mesma emissora foram responsáveis pelo surgimento da chamada Geração de Ouro da MPB, formada por Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo, Tom Zé, Geraldo Vandré, Gal Costa e Rita Lee. No âmbito dos festivais de 1967, surgiu o Tropicalismo, movimento musical liderado por Caetano e Gil que revolucionou essa expressão artística, a partir de inovações estéticas, adicionadas por elementos originários da poesia e do cinema.
Da mesma geração, Milton Nascimento despontou com grande destaque no Festival Internacional da Canção, em 1968, ao interpretar Travessia, que compôs em parceria com Fernando Brant. Logo depois, no começo da década de 1970, o Bituca (como é chamado pelos mais próximos) fundou, em Belo Horizonte, o Clube da Esquina, na companhia dos irmãos Lô e Márcio Borges, Beto Guedes, Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Wagner Tiso, Toninho Horta, Flávio Venturini, Tavinho Moura, Tavito e Robertinho Silva.
O Clube da Esquina gerou um álbum duplo homônimo, que foi escolhido por críticos musicais e jornalistas especializados como o mais importante da história do nosso cancioneiro. Cultuado no Brasil e no exterior, traz clássicos da importância de Cais, Cravo e canela, Nuvem cigana, O trem azul, San Vicente e Um girassol da cor do seu cabelo. São composições que fundem elementos da Bossa Nova, Beatles, jazz, ritmos latinos e rock progressivo.
Pois bem, esse movimento sob foco da cineasta Ana Rieper gerou Nada será como antes — A música do Clube da Esquina, que tem por base o álbum e livros sobre o movimento. O documentário está em cartaz nos cinemas do país, inclusive em sala do Espaço Itaú de Cinema do Casa Park, em Brasília.
Mesmo atraente, principalmente pela história, o filme tem pouco de Milton Nascimento. Segundo consta, porque a produção foi realizada no período da pandemia, o que impediu obter o depoimento dele. Por conta disso, Lô e Márcio Borges acabaram tornando-se protagonistas. Eles contam causos saborosos e mostram pontos marcantes para aquela geração, inclusive, é óbvio, a esquina onde a turma se encontrava, no bairro de Santa Teresa, na região Leste de Belo Horizonte.
Em novembro de 2019, Milton e Lô se aprersentaram no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, com o show comemorativo dos 50 anos do Clube da Esquina e emocionaram a plateia que superlotou aquele espaço cultural, ao interpretarem todas aquelas canções emblemáticas do icônico movimento. Milton Nascimento será homenageado sexta-feira e sábado próximos na segunda edição do Complexo Cultural do Choro por Wagner Tiso, pianista mineiro ao lado do qual deu início a sua trajetória artística, em Belo Horizonte.
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