Três semanas atrás, abordei aqui, neste espaço, a grave crise ética enfrentada pelo futebol no país. De lá para cá, a Seleção Brasileira entrou em campo e conquistou uma vitória contra a Inglaterra e empatou com a Espanha, em uma rápida turnê pela Europa. Fora gramados, no entanto, a ofensiva do presidente do Botafogo, John Textor, contra a arbitragem ganhou novos contornos e, com isso, entrou no radar da recém-criada CPI da Manipulação dos Jogos de Futebol, no Senado.
Jornalista esportivo, o senador Jorge Kajuru, do PSD de Goiás, indicou os primeiros passos que serão dados pela CPI. Textor, que prestou depoimento na quarta-feira à Polícia Civil do Rio, em inquérito que investiga as acusações do empresário, terá a convocação aprovada pela Comissão Parlamentar de Inquérito logo na primeira reunião. Os senadores também pretendem esmiuçar o documento elaborado pela Sportradar, empresa líder global em tecnologia esportiva, parceira entre CBF, Conmebol, Uefa e Fifa, com 109 partidas disputadas no Brasil suspeitas de manipulação dos resultados no ano passado.
Como a investigação envolve uma das grandes paixões do brasileiro, é fundamental que todos deixem o clubismo de lado. Ter uma partida sob suspeita de manipulação não significa o envolvimento do time A ou B com a fraude. Há diversos atores no futebol e a possibilidade de um deles influenciar no resultado de uma partida existe. A "Máfia do Apito", um dos escândalos mais notórios até hoje, envolvia um árbitro, por exemplo. Clubes acabaram prejudicados, afinal, partidas precisaram ser remarcadas e jogadas novamente, causando uma grande reviravolta na tabela de classificação do Campeonato Brasileiro de 2005.
Parto do princípio de que todos nós queremos um futebol de brasileiro com resultados honestos, sem interferência do extracampo. Então, qualquer investigação — tanto da CPI quanto do Ministério Público ou de qualquer esfera policial — tende a fazer bem. Se tem a denúncia, precisa ser apurada. Por isso, causa estranhamento, para dizer o mínimo, o arquivamento sumário das suspeitas de fraudes apresentadas por Textor à Justiça Desportiva.
Tudo indica que Kajuru será o presidente da CPI da Manipulação dos Jogos de Futebol e Romário, do PL do Rio, o relator. São dois congressistas com vivência no meio do futebol. Toda CPI tem o seu caráter político, por isso, novos nomes devem tentar ocupar um papel de protagonismo, caso a investigação avance e não dê com os burros n'água — como foi o que ocorreu com a Câmara, no ano passado, com a CPI que tentou investigar o mesmo tema que agora o Senado se propõe, mas que terminou sem um relatório final. O desfecho, agora, precisa ser diferente.
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