Por Valdir Oliveira, ex-Secretário de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal e filiado ao PSB-DF
Nasci em 1966, dois anos após um golpe militar apoiado por conservadores brasileiros, que fizeram a famosa marcha da família com Deus pela liberdade. Carlos Lacerda, político respeitado que representava a corrente conservadora brasileira, participou ativamente na defesa do golpe militar, que deu seus primeiros sinais em 1961, mas teve seu desfecho em 31 de março de 1964. Os democratas seguraram por três anos a ruptura, mas não conseguiram resistir às forças antidemocráticas com seu ímpeto de quebrar a ordem institucional. Em 11 de abril de 1964, o Congresso Nacional elegia indiretamente o general Castelo Branco para completar o mandato de João Goulart, deposto pelas forças militares. Um dia antes, em 10 de abril de 1964, meu pai, de quem herdei o mesmo nome, que morava em Milagres, interior do estado do Ceará, foi a dois cartórios e fez uma declaração pública de que era democrata. Foi esse o espírito em que fui criado; na defesa da democracia.
Após assumir o poder, os militares deram sinais que não o devolveria para os civis, mantendo o país em um Estado de Exceção, com a centralização do poder em suas mãos, frustrando os líderes políticos que os apoiaram, por verem a impossibilidade da retomada da normalidade democrática. Em 1966, surge o Movimento pela Frente Ampla. Liderado por Carlos Lacerda, esse movimento juntou Juscelino Kubitscheck, que representava uma corrente mais ao centro da política brasileira, e João Goulart, presidente deposto, que representava uma corrente à esquerda da política brasileira. A defesa da democracia juntou lideranças de correntes adversárias, sejam de direita, sejam de esquerda ou centro, mas todos na defesa da democracia brasileira.
Passados 60 anos do golpe militar, vivemos o mesmo ambiente político no Brasil. A tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 mostra o espírito antidemocrático que tomou conta de algumas lideranças políticas brasileiras. Vivemos em uma polarização, disso não temos dúvidas. E essa será a pauta da eleição de 2026. Mas essa polarização não será entre esquerda e direita, tampouco entre progressistas e conservadores. A polarização será entre democratas e golpistas. Em 2026, sessenta anos após o Movimento pela Frente Ampla, precisaremos do mesmo espírito democrático daqueles que foram adversários e que, hoje, tem nos golpistas o antagônico. Essa união em defesa da democracia deve ser a principal pauta, se quisermos caminhar para um Brasil na defesa da liberdade. Inspirados na união de Carlos Lacerda, Juscelino Kubitscheck e João Goulart, os líderes devem se despir de suas disputas paroquiais e dar as mãos na defesa do nosso maior valor: a liberdade.
O que vale para o Brasil, vale para a nossa Brasília. Construir uma frente ampla na nossa capital é juntar os democratas, independentemente de suas correntes políticas. Precisamos ter, de um lado, os que repudiam a atitude golpista que envergonhou Brasília e, do outro, aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a tentativa de golpe de 8 de janeiro. Uma frente ampla precisa se desvincular de extremismos ideológicos e furar a bolha polarizada, para atrair democratas de todas as correntes. A hora é de desapegar das disputas passadas e de suas sequelas, assim como dogmas ideológicos que, muitas vezes, separam aqueles de boa-fé.
O caminho da união dos democratas é a trilha que pode nos levar a uma Brasília economicamente viável e socialmente muito mais justa. Nasci no momento de ruptura no Brasil. Tive uma formação que me fez crer na democracia como valor fundamental para a sociedade. Não posso me abster de opinar neste momento tão importante, assim como repassar aos meus filhos meus valores. Precisamos, todos os democratas, nos unir por um Brasil e uma Brasília em que a liberdade seja o legado para as próximas gerações, independentemente de posições políticas ou ideológicas, mas com um único propósito: a defesa de uma Brasília e de um Brasil onde a democracia seja um valor inegociável.