Orlando Thomé Cordeiro - Há alguns anos, analistas têm procurado entender as novas bases da comunicação em tempos de redes sociais. Também não faltam pesquisas com dados que ajudam nessa reflexão. Para tanto, destaco a seguir aspectos de duas, cujos resultados foram divulgados em 2023.
A primeira em julho, da empresa YouGov, referência internacional em pesquisas de mercado on-line, que apresentou um estudo com avaliação sobre o perfil de consumo de notícias pela população brasileira. O resultado mostra que 64,2% acessam a TV, enquanto 55,4% escolhem as redes sociais. Já o rádio é a fonte para 30% dos respondentes.
Já quanto ao tempo de uso, as redes sociais, principalmente em plataformas como Facebook e Instagram, superam largamente qualquer outro meio, com 33% das pessoas conectadas de uma a três horas por dia e outros 16% durante mais de três horas diárias. Em contraposição, 51% passam menos de cinco horas por semana assistindo TV. E as diferenças são ainda mais gritantes em relação aos jornais: apenas 16% passam de uma a três horas diárias lendo qualquer jornal digital.
A segunda, de um mês antes, foi realizada pelo Instituto Reuters, em 46 países, sobre os hábitos de consumo de notícias. Os dados apontam que 30% das pessoas preferem o acesso pelas mídias sociais, contra 22% que optam pelos canais de imprensa, uma diferença de 8%. Essa distância vem crescendo. Era de 5% em 2022 e 1% em 2021, sendo que até 2020 o acesso pelos canais da imprensa sempre foi maior.
Segundo o Instituto, uma explicação estaria na clara preferência de jovens entre 18 a 24 anos em buscar notícias pelas mídias sociais, consumir conteúdos mais divertidos, com mistura de áudio, vídeo e texto, em plataformas como TikTok, Instagram e Snapchat, além de valorizarem mais influenciadores do que jornalistas. Outro dado preocupante revelado é a tendência de queda quando o assunto é confiança nas notícias, saindo de 62% em 2015 para 43% no ano passado.
Ou seja, está cada vez mais evidente a perda de relevância do rádio e da TV como fonte de informação para as pessoas em um mundo cada vez mais conectado via internet. E mesmo quando uma parte delas continua vendo noticiário na TV, o fazem apenas para confirmar suas convicções estabelecidas previamente nas redes, especialmente nos grupos de WhatsApp.
Uma reflexão a ser feita é se o cenário apontado pelas pesquisas se reproduz no período da propaganda no horário eleitoral gratuito em rádio e TV, previsto de 30 de agosto a 3 de outubro. Aqui, é importante observar que, a partir das eleições municipais de 2016, a legislação trouxe uma novidade, que foi a possibilidade de inserções diárias, com duração de 30 segundos, distribuídas nos intervalos comerciais ao longo da programação regular de rádios e TVs.
Segundo especialistas em mídia, o impacto da mensagem dessas inserções é maior, já que o espectador e/ou ouvinte é pego de surpresa, ao contrário dos períodos de 10 minutos diários dedicados exclusivamente e de forma contínua à propaganda eleitoral.
Outra informação relevante é que somente as emissoras reguladas pela legislação de radiodifusão têm a obrigação legal de transmitir a propaganda eleitoral gratuita. Assim, no caso das TVs, verifica-se uma limitação porque, na maioria dos municípios, a cobertura é feita a partir de uma geradora ou de uma emissora afiliada às grandes redes de TV aberta, em geral sediadas em municípios polo. Portanto, nas menores cidades, o papel da TV no horário eleitoral gratuito tende a ter uma influência pequena ou quase nula no processo de decisão do eleitor.
Por outro lado, quando se analisa a situação das rádios, ainda é possível identificar um razoável número de municípios com emissoras instaladas enquadradas nessa obrigatoriedade que, cabe ressaltar, não se aplica a web rádios e rádios comunitárias.
Diante desse cenário, quem trabalha em campanhas ou pretende se candidatar em outubro deve levar em conta as seguintes ponderações: nas 212 cidades com mais de 100 mil eleitores, é fundamental investir em materiais de excelência para veiculação no horário eleitoral gratuito, com destaque para as inserções de 30 segundos; nos 1.092 municípios que têm entre 20 mil e 100 mil eleitores, vale a pena identificar as rádios legalizadas para preparar materiais de boa qualidade, mas reconhecendo a limitação do alcance; e para os 4.266 municípios com até 20 mil eleitores, o foco é um só: gastar sola de sapato!
Na próxima coluna, trataremos de candidaturas ao legislativo municipal, abordando as características valorizadas pelo eleitorado e a narrativa mais adequada. Até lá!
Consultor em estratégia*