STJ

Visão do Correio: O que está em jogo no caso Robinho

O ex-atacante foi julgado e condenado à revelia pela Justiça italiana por abuso sexual de uma jovem albanesa de 23 anos, em janeiro de 2013, durante uma balada em uma casa noturna na cidade de Milão

Está marcado para hoje, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o julgamento do pedido de homologação da sentença da Itália que condenou Robinho a nove anos de prisão por estupro coletivo. O ex-atacante foi julgado e condenado à revelia pela Justiça italiana por abuso sexual de uma jovem albanesa de 23 anos, em janeiro de 2013, durante uma balada em uma casa noturna na cidade de Milão.

A Corte Especial do STJ vai analisar o procedimento que valida uma decisão estrangeira e permite que ela seja executada no Brasil. Não está em avaliação a acusação contra Robinho, ou seja, o tribunal não vai revisitar o caso, estudando fatos e provas. O colegiado conta com os 15 ministros mais antigos, num total de 33 magistrados. Para que a sentença seja validada, é preciso a maioria dos votos.

A conclusão será histórica, já que é a primeira vez que a Corte irá se posicionar sobre a possibilidade de um brasileiro cumprir no país pena imposta no exterior. Não por acaso, a sessão será transmitida ao vivo pelo canal do STJ no YouTube, a partir das 14h. Além do ineditismo em relação às questões jurídicas e de relações internacionais que o caso levanta, a gravidade da acusação e os desdobramentos desde que foi apresentada merecem uma profunda reflexão.

Recentemente, a condenação de Daniel Alves, outro jogador acusado de violência sexual, acrescenta uma dose a mais de complexidade ao que está sendo julgado a respeito de Robinho. O lateral-direito teve determinada uma pena de quatro anos e meio pelo estupro de uma mulher no banheiro de uma casa noturna em Barcelona, no fim de 2022.

Ambos os ex-jogadores da Seleção Brasileira negam as acusações. E os pontos em comum não param por aí. Os fatos denunciados ocorreram em boates, com os acusados cercados de "amigos" dispostos a curtir a noitada regada a bebida alcoólica — Daniel Alves, inclusive, alegou em depoimento uso excessivo de álcool na noite do evento. Ontem, a defesa do lateral solicitou ao Tribunal de Justiça da Espanha a liberdade provisória até que se esgotem os recursos. A previsão é de que a decisão seja informada nos próximos dias.

Nada pesa contra o direito à diversão. Mas até onde a sensação de estarem protegidos sob as benesses da fama mundial, dos muitos milhões e dos mimos que vêm com o sucesso dentro dos gramados pode levar? Talento e mérito profissional, Robinho e Daniel Alves sempre tiveram. Sobre isso não pairam dúvidas. Como também não é questionável que a lei deve ser aplicada para todos. Isso inclui o mundo do futebol milionário, não raro cercado de excessos.

Na Argentina, quatro jogadores do Vélez Sarsfield tiveram as prisões decretadas, na segunda-feira. Eles são acusados de abuso sexual por uma estudante de jornalismo de 24 anos. A violência teria acontecido em um hotel, onde o time estava concentrado para uma partida pela Copa da Liga Argentina. A denúncia será julgada.

No Brasil, o próprio STJ já definiu, em decisão unânime, que o crime de estupro é hediondo, ou seja, os condenados estão sujeitos a cumprir a pena na forma mais severa. Na Itália, Robinho foi julgado e considerado culpado. Segundo a acusação, o ex-atleta e outros cinco homens teriam violentado a mulher albanesa. Em 2022, a decisão se tornou definitiva — sem a possibilidade de novos recursos.

Robinho estava em território italiano quando as investigações começaram, mas no Brasil quando o julgamento terminou. Como não há extradição de brasileiro nato, ele não foi preso. Agora, a Corte Especial do STJ avalia se a prisão pode ser cumprida no Brasil.

Em novembro de 2023, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou números sobre o aumento da violência contra mulheres e meninas no primeiro semestre do mesmo ano. Os casos de estupro e estupro de vulnerável tiveram um crescimento de 14,9% em relação ao mesmo período de 2022. Foram 34 mil ocorrências, o que significa que a cada oito minutos uma menina ou mulher foi estuprada entre janeiro e junho de 2023 no Brasil, o maior registro da série histórica iniciada em 2019.

Dar credibilidade aos relatos das vítimas, buscar os fatos e as provas e levar até a Justiça, respeitando totalmente o direito de defesa, são passos de um caminho que precisa ser encarado no sentido de abolir essa realidade cruel. Aos julgados culpados pelos tribunais — independentemente de qualquer condição social —, o cumprimento das penas é o que se espera.

 


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