Então, no dia seguinte ao furacão, recebemos na Redação uma mensagem do amigo Tiãozinho: “Onde ele estiver, está dizendo, naquela fina ironia: ‘Exagerou’”. E ele acertou. Paulo Pestana, de fato, diria assim, desse jeitinho, sobre as homenagens nas páginas do jornal e sites afora nos dias tristes que se seguiram à sua despedida. A modéstia lhe caía bem demais. E talvez não fosse só isso.
Acharia demais aquele tanto de gente no velório, o tanto de palavra bonita despejada, o tanto de lágrima não contida, o tanto de riso das boas lembranças em meio à dor. A verdade é que a gente não se dá conta de quem somos ou do que representamos até deixarmos de ser — ao menos de corpo presente. Paulinho se foi talvez sem saber de sua dimensão. Porque dificilmente a gente credita na nossa conta o que representamos para os outros por aqui.
Construir uma vida dia após dia e deixar boas lembranças deveria ser nosso objetivo, mas normalmente levamos tão naturalmente o fluxo dos dias e das noites que nos esquecemos de que realizar é menos DO que sentir, abraçar, conversar, estar presente. Guardamos uma palavra, um texto, uma memória, um minuto, um gesto, um sorriso, uma mão estendida e por aí vai.
O próprio Paulinho procurou escrever sobre essa devoção a alguém que amamos. Na crônica A lição do tempo, disponível no site do Correio, ele comenta sobre o pai, que em 2020 completava 90 anos. “Impossível decidir qual foi o melhor ensinamento que ele traz; talvez uma inarredável honestidade em todos os aspectos (...) Talvez a sabedoria das palavras certas nos momentos precisos.” Você não faz ideia, Paulinho, do tanto que você também nos ensinou.
Hoje, no sétimo dia de sua partida, talvez você já esteja rascunhando uma crônica do furdunço de gente tagarela que anda matando saudades nos enterros, em vez de se encontrar mais pelos botecos da vida ou quiçá nas poucas bancas de revistas e sebos de discos que ainda existem. E talvez, quem sabe, já esteja rindo de nós, por nós, na companhia de tanta gente amiga que se foi nos últimos tempos. Massimo Manzolillo, entre eles.
Nós havemos de nos entristecer sempre com as perdas. Não tem jeito. Mas nem tudo se perde quando alguém parte, ainda que cedo. Tem um lindo poema do Antônio Cícero que diz: “... Melhor se guarda o voo de um pássaro do que um pássaro sem voos”. Ele voou longe e muito. Mas gratos somos nós, que o encontramos em alguns de seus pousos.
Neste domingo, temos nova oportunidade de render homenagem a Paulo Pestana. A missa de sétimo dia está marcada para as 11h, na Igreja de Nossa Senhora do Lago, localizada na SHIN QI 3, Área Especial, Lago Norte.
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