A inflação de fevereiro, de 0,83%, veio acima do esperado pelo mercado (0,78%) e praticamente dobrou em relação à taxa de janeiro (0,42%). Esse salto, por si só, deve ser visto como um sinal de alerta, ainda que os especialistas digam que o mês passado, por conta do grupo educação, que computou elevação de quase 5%, não pode servir de parâmetro para se medir o real custo de vida.
Tradicionalmente, nesse período, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é sempre maior do que a média, devido à disparada recorrente das mensalidades escolares. Os mesmos analistas afirmam, ainda, que, apesar de mais alta, a inflação está menos disseminada, tanto que o índice de difusão, que mede a quantidade de produtos e serviços que apontam reajustes, caiu de 65% para 57% em fevereiro.
Inflação sempre é um tormento no Brasil. Quando menos se espera, essa velha senhora dá as caras, sobretudo, em governos lenientes e intervencionistas. Portanto, é fundamental que os agentes políticos, em especial o governo, não recorram a artificialidades para tentar maquiar o custo de vida, pois a conta sempre aparece, e sempre mais cara. Até agora, o país tem conseguido levar, com sucesso, o projeto de redução no ritmo de alta do custo de vida. Mas há um longo caminho a ser percorrido para que se respire mais aliviado.
O IPCA acumulado em 12 meses está em 4,51%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda longe do centro da meta, de 3%, perseguida pelo Banco Central. Isso significa dizer que a autoridade monetária será bastante conservadora na política de corte da taxa básica de juros (Selic), que está em 11,25% ao ano. Há o compromisso do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a Selic em mais 0,5 ponto percentual em março. Contudo, daí por diante, tudo dependerá do ímpeto dos reajustes.
Antes da divulgação da inflação de fevereiro, boa parte dos especialistas admitia a possibilidade de o Copom levar a taxa Selic para abaixo de 9% anuais. Agora, tal possibilidade se tornou bastante remota. Não à toa, várias instituições financeiras revisaram para cima a estimativa para os juros básicos. O consenso está, agora, mais para 9,25% do que para 8,75% ao ano no fim de 2024. O conservadorismo deve prevalecer no BC, que, ressalte-se, tem feito um trabalho brilhante, cuidadoso, no sentido de levar a inflação para a meta.
A sociedade brasileira já deu inúmeras demonstrações de que não abre mão do controle da inflação, perante o inferno que foram os anos de 1980 e a primeira metade da década de 90. O aumento no custo de vida chegou a passar de 80% ao mês, algo impensável depois que se saboreou, por quase 30 anos, a estabilidade trazida pelo Plano Real. O descontrole dos preços tem força suficiente para derrubar governos, sobretudo os dos alimentos, que andam mais assanhados do que deviam. Então, todo cuidado é pouco.
Além do arrocho nos juros feito pelo Banco Central, um pilar importante para manter o custo de vida sob controle é a boa gestão das contas públicas. Há um compromisso efetivo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de zerar o rombo fiscal neste ano. Mas sempre há um porém a sustentar a incerteza. É aí que mora o perigo. O governo precisa cumprir a promessa de não gastar mais do que arrecada.
Mantida essa linha, os brasileiros, com certeza, ficarão livres de enfrentar o que passam os argentinos. No país vizinho, a inflação acumulada em 12 meses está em 276%. Não há orçamento doméstico que resista a tamanho disparate. Sendo assim, é melhor ser prudente do que lidar com o prejuízo. Tudo o que o Brasil não precisa agora é se preocupar com o fantasma daquela indesejada velha senhora.