Volta e meia, eu me pergunto onde as pessoas querem chegar com certas atitudes. Detalhe: todos os dias e, por vezes, de forma tão espontânea que nem percebem. Imaginava, ingenuamente, que a pandemia da covid-19 deixaria como legado mais sensibilidade, gentileza e educação. Infelizmente, ao que tudo indica, muitos retornaram dessa "fase" endurecidos, deselegantes e ausentes de total empatia.
Não é preciso muito. Basta andar pelas ruas, raros os que cedem a vez para o motorista que sinaliza ou que realmente param na faixa de pedestre. Em sala de aula, o estudante que pergunta é defenestrado, idosos acima dos 80 são tratados por "você", respostas descabidas são dadas em farmácias e hospitais, lugares em que as pessoas buscam acolhimento.
É importante distensionar, o convívio entre mais os vividos e os iniciantes é saudável para ambos. Não há competição, existe colaboração. Enquanto alguns sabem certos temas, outros ensinam saberes distintos. Não há obsoletos nem ultrapassados, muito menos estorvo. A memória, a história e o aprendizado são construídos por todos.
De Sócrates a Hannah Arendt e Heidegger, entre tantos, todos debateram a construção do conhecimento e o campo das ideias. Nem eles, os geniais, chegaram à fórmula. Simplesmente porque ela não existe. O que há é uma eterna e incansável busca, que faz aqueles que acreditam na possibilidade de dias melhores testarem alternativas.
É estranho ter admiração por quem é sensível, pelo desconhecido educado e gentil. Talvez a ordem natural da vida esteja invertida: a regra virou exceção e vice-versa. Lamentável sobretudo para as novas gerações que enfrentaram um mundo absolutamente bruto e áspero cuja suavidade corre risco de ser algo de um passado bem distante.
O que está acontecendo? Não reconheço algumas atitudes, que esbarro todo o tempo, nem admito qualquer tentativa de argumentação que tratam essas situações como normais e corriqueiras. Não! Banalizar a brutalidade e a individualidade é simplesmente contribuir para uma sociedade cada vez mais doente e individualizada, em nada ajuda.
O momento em que o mundo enfrenta duas guerras sangrentas e prolongadas, fome, miséria, desemprego, poluição que afeta gerações inteiras e o surto de dengue tem de servir para uma reflexão coletiva. Que planeta é este em eterna construção cuja fase desencadeia uma desilusão sem igual? Amo animais, mas não aprecio quem diz: "Gosto mais dos bichos do que de gente". Não dá para gostar igual.
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