Em 2022, no Brasil, mais de 9 milhões de jovens de 15 a 29 anos estavam fora da escola, sem completar a educação básica. Os principais motivos que levaram esses jovens a se afastarem incluíram a necessidade de trabalhar, o desinteresse e as necessidades de cuidar de filhos e de outros parentes, além da gravidez, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São mais de 9 milhões de cidadãs e cidadãos que enfrentam inúmeros desafios de empregabilidade e ficam sujeitos, muitas vezes, a postos de trabalho precários e a menos oportunidades de ascensão profissional. É um desafio nacional viabilizar as condições necessárias para reintegrá-los à educação, assegurando o direito constitucional ao ensino básico. E esse deveria ser um compromisso de toda a sociedade. A violação do direito à educação e a baixa escolaridade agravam o ciclo de pobreza e desigualdades do país. Negar esse direito a essa parcela da população não só impacta as camadas mais vulnerabilizadas da sociedade, mas também amplia as desigualdades sociais já existentes. Não conseguiremos construir uma nação justa e economicamente forte enquanto dois em cada 10 jovens chegarem à vida adulta sem concluir ao menos o ensino médio.
Retornar à escola e concluir os estudos é não apenas uma necessidade urgente para o país, mas também um desejo compartilhado pelos próprios jovens. A pesquisa Juventudes fora da escola, realizada em parceria entre o Itaú Educação e Trabalho e a Fundação Roberto Marinho, entrevistou mais de 1,6 mil jovens que não finalizaram a educação básica. Uma das inovações da pesquisa foi o envolvimento de cinco jovens pesquisadores, que estavam na mesma situação de não frequentar escola e não ter concluído o ensino médio. Esses jovens contribuíram com todas as etapas do estudo e são co-autores da iniciativa. A pesquisa é fruto de colaboração técnica com o Instituto Datafolha, a Conhecimento Social Estratégia e Gestão e a Rede Conhecimento Social. Do total de jovens ouvidos, 73% afirmaram ter a intenção de voltar a estudar e concluir a educação básica.
A necessidade de trabalhar foi um dos pontos mais latentes sinalizados pelos jovens entrevistados, sendo a principal razão para terem interrompido os estudos. Ao mesmo tempo, o desejo de melhorar as condições de trabalho é a principal motivação para voltar à escola. Na percepção de 92% deles, concluir a educação básica ajudaria a ter melhores oportunidades de trabalho. Entre aqueles que gostariam de terminar o ensino médio, 37% desejam voltar aos estudos para conseguir um emprego melhor, e 15%, para tentar obter um trabalho.
A pesquisa lança luz sobre a nossa realidade: os jovens precisam trabalhar. E não há uma solução única para um problema que tem muitas faces. Os jovens precisam de uma série de políticas públicas e iniciativas intersetoriais que ofereçam possibilidades conforme a realidade de cada um, permitindo, principalmente, que possam estudar e ter um trabalho digno.
Esse é um anseio dessas juventudes. A pesquisa mostrou que, entre os jovens que pretendem concluir o ensino médio, 77% têm intenção de cursar o ensino técnico. Essa é uma importante sinalização do que precisamos oferecer para eles: formação geral qualificada e preparo para o mundo do trabalho. É urgente atuarmos pela democratização da Educação Profissional e Tecnológica qualificada para que mais jovens possam estudar e obter formação profissional ainda na escola. Um caminho para isso é a partir da Política Nacional de Educação Profissional e Tecnológica, que deve ser construída em dois anos e pode garantir diretrizes para termos uma expansão qualificada dessa modalidade de ensino.
Essa é apenas uma das respostas que podemos dar aos jovens. Temos, ainda, a necessidade de melhorar a atual Política de Aprendizagem, que traz a possibilidade de o jovem estudar e participar de uma atividade profissional no mundo do trabalho. E não só. Levar o jovem de volta para a sala de aula passa, ainda, por uma combinação de políticas que garantam perspectivas para seus projetos de vida, auxílio de renda, suporte para aqueles que são mães e pais, flexibilidade de horários, diversidade de modelos para que possam concluir os estudos, acolhimento e orientação. É a partir da colaboração de diversos atores que teremos mais chances de não violar mais esses direitos constitucionais de educação e trabalho dignos.
Um país que busca desenvolvimento não pode permitir que suas juventudes estejam fora da escola. Somente com educação para todas e todos é que poderemos romper com o ciclo de pobreza e desigualdades. Devemos nos unir por isso.
Carla Chamarelli Gerente de Gestão do Conhecimento do Itaú Educação e Trabalho
Rosalina Soares Assessora de Pesquisa e Avaliação da Fundação Roberto Marinho