Nunca foi difícil amar Paulo Pestana. Nem nos momentos de loucura de um jornal. Ao contrário do que se costuma ver em momentos tensos de redação, não tinha grito, nem desespero. Tinha a sua incrível capacidade de sentar, escrever, pensar na página, sugerir algumas das edições mais brilhantes que já vi nos meus tempos de jornal. Paulinho, como os amigos sempre o chamaram, sorria com seus olhos apertados, era de fala mansa, elegante nas palavras e nos gestos, extremamente culto. Paulinho se foi nesta segunda, 11 de março, e ainda está bem difícil de acreditar.
Poderia dizer que ele nasceu para a diplomacia, dada a incrível capacidade de dar nó em pingo d'água. Sabia contornar situações difíceis com uma boa conversa. Foi a lábia que me fez apelidá-lo de falsinho, e ele devolvia me chamando de falsinha. Uma brincadeira de gente grande, com muito respeito envolvido. Bom chefe, bom amigo, bom de convívio, ser humano de alta patente. Paulinho era de outras redes, digamos de passagem muito mais sociais e sociáveis: do boteco; da música (sim, do jazz ao rock, entendia de todos os gêneros e era o melhor crítico musical do país); das esquinas da cultura brasiliense; da Quituart; da Varanda do Fred; das reuniões com a família e os amigos na sua casa; da literatura; de Zelinda, sua companheira de tantos anos e dos filhos, Rafael e Pedro; dos netos Marvin e Marla. Quando precisava, também dos bastidores, dos segredos, da discrição.
Apesar de ter saído do Correio há um bocado de anos, nunca perdeu o vínculo. Assinava colunas no Divirta-se Mais e na Revista do Correio. Um cronista de Brasília, das coisas mundanas, dos costumes — aliás, muitas vezes, um crítico das bobagens da atualidade, porém com humor e leveza. Nunca o vi perder verdadeiramente a paciência. Também não perdia a piada.
Cultivava palavras e o que garimpava nos livros e dicionários ia para as páginas, a despeito do leitor moderado ter de buscar seu significado. Para matar a saudade, se é que isto é ou será possível, fui reler algumas crônicas recentes. Ri vendo seu apuro de pesquisar a literatura do pum para escrever uma crônica e chorei lendo seu texto do final de 2023, O Tempo e a pressa, ambientado numa sala de espera de um hospital lotado.
Dizia: "O passado me salvou: lembrei de um tempo em que era possível se esconder do mundo nem que fosse por alguns minutos para recarregar as baterias, de quando era possível ter longas férias, de quando se preenchia uma folha de cheque sem levar susto porque já estamos nas vésperas mais um ano. Olhei de novo para a mocinha e não gostei da cara do mundo novo que fizemos."
De certa forma, o passado nos salva sempre. Porque ainda teremos o privilégio de lembrar como era boa sua companhia. Vá com Deus, meu amigo. Faça festa onde estiver. Por aqui, ficamos com essa saudade grande e com toda a solidariedade à sua família, neste momento de extrema dor. Beijos da afilhada Helena, do companheiro de signo de Áries e de futebol Gabriel.