Editorial

Visão do Correio: Investimentos e juros em queda

O resultado do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país, em 2023 foi positivo

Boas notícias são sempre muito bem-vindas. Mas os riscos de se deixar inebriar por elas podem resultar em sérios problemas mais à frente. O resultado do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país, em 2023 foi positivo. O crescimento chegou a 2,9%, quando, no início do ano, a previsão era de minguado 0,8%. Uma leitura mais profunda do desempenho da atividade, porém, traz preocupações que não podem ser desconsideras. Muito pelo contrário, devem servir de alerta para os desafios que estão colocados para o Brasil garantir avanços consistentes no futuro.

O alerta mais contundente dentro das boas notícias do PIB é a queda de 3% nos investimentos, a Formação Bruta de Capital Fixo. Não há como se falar em crescimento sustentado ao longo do tempo sem que a capacidade de produção do país seja ampliada. Se o consumo das famílias e do governo sobe, é fundamental que haja oferta de produtos para atender a essa demanda. A falta de mercadorias resulta em mais inflação e, por tabela, juros mais altos. Tudo o que governo e população assistiram ao longo de vários anos e ninguém quer que se repita.

Mas, para retirar projetos da gaveta e investir na expensão das fábricas, os empresários precisam de duas palavras básicas: confiança e previsibilidade. Ou seja, a certeza de que não haverá estripulias na economia, que possam resultar em mais inflação, e que os consumidores terão capacidade de suprir as suas necessidades. A taxa de investimentos encerrou 2023 em apenas 16,5% do PIB, quando, para crescer, em média, 5% ao ano, esse indicador necessita ser de ao menos 25% da soma das riquezas. Um país sem investimentos está fadado a eternos voos de galinha.

Outro dado a ser considerado é o desempenho da indústria, setor da economia que mais agrega tecnologia e inovação. No indicador geral de 2023, a indústria avançou 1,6%, mas esse resultado se deveu, basicamente, às atividades extrativistas. A indústria de transformação, responsável por mercadorias de alto valor agregado, tombou 1,3%. As exportações só saltaram 9,1% por causa do desempenho magnífico da agropecuária, com incremento recorde de 15,1%. Esse quadro reforça a tese de que o país está dependente de produtos primários, o que o amarra à condição de ser uma nação de renda média.

Portanto, está nas mãos do governo e do Congresso criarem as condições para que o Brasil possa superar os gargalos que travam a atividade, seja garantindo a estabilidade econômica, seja evitando conflitos políticos. Em um ambiente favorável aos negócios, a desconfiança perde força e os pilares que sustentam o crescimento se fortalecem. Os indicadores, neste início de 2024, estão mais favoráveis do que no mesmo período do ano anterior: a inflação está rodando em torno da meta perseguida pelo Banco Central, de 3% ao ano; as taxas de juros vêm caindo desde agosto último, podendo ficar abaixo de 9%; o mercado de trabalho se mostra resiliente; e há um compromisso com o equilíbrio das contas públicas.

São esses fatores que têm estimulado os especialistas a revisarem para cima as estimativas de crescimento para o PIB. Agora, as projeções estão encostando em 2%, o que não é nenhum motivo para comemoração, mas é um alento no sentido de que o Brasil pode, mais uma vez, surpreender favoravelmente. O jogo já começou. No segundo semestre do ano passado, a atividade parou, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Contudo, diante das condições favoráveis que se consolidam — a principal delas, a continuidade da queda dos juros —, os seis meses finais de 2024 tendem a ser de reativação. Investimentos e consumo das famílias devem movimentar as máquinas, alimentadas por crédito mais acessível e barato. Todos sabem o dever de casa. Basta segui-los à risca para que o resultado final seja o que todos esperam: crescimento consistente e melhores condições de vida para a população.

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