Em primeiro de março (hoje), comemora-se o Dia do Ecoturismo. Embora haja algum debate sobre sua definição, podemos considerar que visitar áreas naturais gerando o menor impacto possível seja uma boa definição de ecoturismo para fugir dos debates semânticos e acadêmicos. No entanto, essa atividade tem se mostrado um desafio para os ambientalistas.
Pelo lado positivo, o ecoturismo é uma oportunidade de aproximar a nossa sociedade, cada vez mais urbana, de paisagens preservadas e, com isso, promover a consciência ambiental. A visão de chuveirinhos e caliandras tremulando na brisa leve, um banho de cachoeira ou assistir ao sol se pôr atrás de uma vereda nos conectam com a natureza e mexem com nossa visão de mundo. Pesquisas têm demonstrado que o chamado "banho de floresta" é um grande remédio para nossa já fragilizada saúde mental e até para problemas considerados mais físicos, como cardiopatias e alergias, sendo, inclusive, receitado por médicos.
Pelo lado negativo, uma multidão de pessoas dentro de áreas naturais, inegavelmente, causa impactos. Uma estimativa publicada na revista PLoS Biology por Balmford e colaboradores em 2014 sugere que, naquele ano, cerca de 8 bilhões de pessoas visitem parques naturais anualmente. É como colocar toda a população terrestre para andar em áreas preservadas, e isso não considerou o turismo em ambiente aquático nem áreas fora de parques como mergulhos em Abrolhos e trilhas em fazendas. Mesmo que comportamentos mais absurdos como jogar cigarros acesos no Cerrado ou despejar lixo numa trilha sejam evitados, ainda podemos compactar ou erodir o solo apenas por pisoteá-lo e espantar animais com nosso cheiro, presença ou barulho.
Apenas o fato de entrarmos numa cachoeira usando protetor solar pode fazer com que os peixes que habitam ali aumentem a taxa de ingestão de comida e fiquem mais tempo perto da superfície da água, onde predadores como garças e martins-pescadores são mais ativos. Dar comida aos peixes, por outro lado, favoreceu espécies generalistas e prejudicou aquelas que eram mais exigentes com o alimento, pelo menos em estudos feitos com peixes marinhos.
Nossa presença causa estresse nos animais, faz com que passem mais tempo se escondendo e fugindo, e menos tempo comendo, procurando parceiros e cuidando de filhotes. Em estágios mais avançados, a própria composição da fauna de um local pode mudar em resposta ao turismo.
Também sabemos que esse impacto depende da quantidade de turistas numa área, de como eles se comportam ali (por exemplo, quanto barulho fazem, a cor das roupas que usam e se perseguem os animais) e de como os animais percebem o ambiente, já que há espécies mais visuais e auditivas, como nós mesmos, ou outras cujo olfato é mais sensível.
Encontrar um equilíbrio nesse dilema não é simples, mas é tarefa fundamental para maximizar benefícios e minimizar os impactos. Cientistas têm se dedicado a encontrar volumes adequados de visitação, períodos do dia e do ano que gerem menor impacto sobre os animais, comportamentos a serem evitados e até métodos de gestão das destinações turísticas que resultem em ganhos para os visitantes, para as comunidades que recebem os turistas e também, obviamente, para os animais e as paisagens que atraem os ecoturistas.
Ao redor de Brasília, temos inúmeras opções para praticar ecoturismo. Dentro da cidade, temos atrações como trilhas no Park Way e cachoeiras na região do Tororó. No Entorno, temos destinos tradicionais como Pirenópolis e a Chapada dos Veadeiros, além de outros tantos menos conhecidos. Vale a pena conhecê-los e valorizá-los não só pelo prazer de estar em meio à natureza, mas também pelo impacto ambiental. Três pessoas passando um feriado em Pirenópolis emitem 28 kg de CO². O mesmo trio emitiria 3.336 kg de CO² no mesmo feriado na Amazônia, considerando apenas o transporte.
Para as localidades que recebem turistas, o ecoturismo bem-feito beneficia comunidades não urbanas e valoriza a cultura tradicional. Uma gestão participativa e organização local do turismo favorecem a distribuição de renda e diminuem a desigualdade social entre cidades e o campo, trazendo um progresso dependente da preservação ambiental e que vincula pessoas com sua terra.
Para os turistas, além do lazer, praticar ecoturismo beneficia a saúde física e mental, proporciona educação ambiental e fortalece o vínculo com o mundo natural. Não desperdice chances de estar em meio à natureza, mas tenha sempre em mente os impactos que você irá gerar lá e como pode minimizá-los.
EDUARDO BESSA
Professor do Programa de Pós-graduação em Ecologia da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador da Rede Biota Cerrado