SÁBADO DE ALELUIA

Jesus não malhou o Judas

Neste sábado de Aleluia, proponho uma reflexão. Como é a nossa relação com Jesus? Há algo de Judas em nós? Vivemos decepcionados com o Mestre porque Ele não realiza nossos desejos do jeitinho que queremos?

O sábado de Aleluia, véspera da Páscoa, representa a memória da ressurreição de Jesus -  (crédito: Paul Zoetemeijer/Unsplash)
O sábado de Aleluia, véspera da Páscoa, representa a memória da ressurreição de Jesus - (crédito: Paul Zoetemeijer/Unsplash)

Para os cristãos, hoje é sábado de Aleluia, véspera da Páscoa, a memória da ressurreição de Jesus. Na visão de outros, é dia de malhar Judas Iscariotes — o discípulo traidor do Mestre. O articulador, o conspirador da entrega aos romanos para a prisão e a crucificação.

Judas é, talvez, o personagem mais odiado da Bíblia. Papais e mamães raramente registram bebês com esse nome. Motivo: a trama do tesoureiro para identificar Jesus, no Gêtsemani, em troca de 30 moedas de prata. As descrições são de que aquele ambiente escuro. Todos se vestiam parecidos. Era preciso um sinal. Judas escolheu um dos gestos mais duros: um beijo no rosto. I-n-t-i-m-i-d-a-d-e.

Jesus não malhou Judas. Não o agrediu. Não jogou na cara três anos e meio de parceria. Esta é uma das grandes — e desafiadoras — lições cristãs daquele instante de tensão. Passa quase despercebido nos relatos dos evangelhos. Em vez de ódio, Jesus ofereceu a Judas as oportunidades de arrependimento e perdão. O evangelho de Mateus 26.50 relata que Jesus pergunta: "Amigo, a que vieste?". A-m-i-g-o. Que equilíbrio emocional!

Embora estivesse em carne e osso na Terra, no modo humano, o Mestre era onisciente. Sabia quais seriam os próximos passos dele, Jesus, no plano do Pai; e o destino de Judas. O traidor não sacou. Em vez de arrepender-se, foi tomado pela decepção e pelo remorso. O desespero o destruiu mentalmente.

Decepção, pois Judas via Jesus de uma forma distorcida. Como um revolucionário político, mago, ilusionista, o gênio da lâmpada. Nos três anos e meio como discípulo, testemunhou milagres, sinais, prodígios, a ressurreição de Lázaro. No entanto, não enxergava o líder como Deus, o Salvador. Resultado da origem dele. Judas veio de Caríates ou Queriote, um povo que jamais aceitou a imposição de Roma. A família dele era de guerreiros, revolucionários. Esperava que Jesus escapasse em um passe de mágica e declarasse guerra aos romanos.

Remorso, porque Judas diz, em Mateus 27.4, numa tentativa frustrada de livrar-se das 30 moedas de prata. "Pequei, pois traí sangue inocente". A resposta dos sacerdotes foi: "O que temos a ver com isso? O problema é seu". Perturbado, Judas se enforcou.

Neste sábado de Aleluia, proponho uma reflexão. Como é a nossa relação com Jesus? Há algo de Judas em nós? Vivemos decepcionados com o Mestre porque Ele não realiza nossos desejos do jeitinho que queremos? Desejamos apenas ver os milagres dele, em uma espécie de relação toma-lá-dá-cá, sem reconhecê-lo como Salvador? Ou traímos Jesus ao não agirmos de acordo com os ensinamentos dele? Sim, não é fácil oferecer perdão aos "Judas" do nosso cotidiano, porém esse é um dos princípios cristãos: o perdão, a reconciliação.

Na mesma noite em que Judas entregou Jesus, um outro discípulo o traiu. Pedro havia sido avisado pelo Mestre que o negaria. E assim foi. A diferença entre Judas e Pedro? Este chorou, se arrependeu, reencontrou-se com Jesus depois da ressurreição e virou o fundador da igreja. Feliz Páscoa!

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postado em 30/03/2024 06:00 / atualizado em 30/03/2024 11:34