Em todo início de ano, o verão surge para nos lembrar que o ser humano — a maior potência do planeta — é extremamente frágil diante da força da natureza. As chuvas comuns a essa estação são severas e nos atingem sem misericórdia com inundações, alagamentos e desabamentos que destroem lares e vidas de milhares de brasileiros, como as que temos visto ocorrer na região Sudeste. Mas essas tragédias naturais podem não ser tão devastadoras para a raça humana quanto a proliferação do mosquito Aedes aegypti, que convive entre nós há décadas, mas em 2024, decidiu vociferar para o mundo que é capaz de assolar a humanidade se não for combatido.
Eu nunca tinha pego dengue na vida. Mas, pela primeira vez, aos 44 do primeiro tempo, ela me alcançou. E me nocauteou tal qual um Conor McGregor aos seus oponentes do octógono. Graças a Deus, estou vivo para contar esta história — ao contrário do colega Paulo Pestana, que não resistiu ao choque provocado pela doença prevalente e persistente que, somente no Distrito Federal, matou 147 pessoas de um total de 682 vidas perdidas para um mosquito em todo o país.
Tive febre alta, dores no corpo, perda de apetite, enjoos, porém sou grato por não ter sofrido hemorragias e quedas de pressão. Hoje, curado, não me sinto ainda 100% recuperado. O organismo se comporta de maneira estranha, com cansaço exagerado, sonolência, apetite comprometido e um gosto amargo que insiste em se estabelecer na boca. Além disso, diante do que vivi e do medo do que posso viver em uma próxima infecção, convivo agora com o pavor de ser novamente picado pelo mosquito nocauteador.
Privilegiado com plano de saúde, tive rápidos atendimentos e um acompanhamento eficaz com hidratação, exames de contagem de plaquetas e medicação. E pude me ausentar do trabalho por cerca de 10 dias, sem prejuízo à manutenção do meu emprego. Mas essa não é uma realidade geral do brasileiro — e a dengue nos impõe também o vírus da injustiça social.
Estamos falando de uma doença que não apenas causa sofrimento físico, mas também impõe ônus significativo sobre os sistemas de saúde e a economia, sem falar na qualidade de vida das comunidades afetadas. É essencial reconhecer a gravidade da dengue como uma questão pública, que requer maior prevenção ao desenvolvimento dos vetores de transmissão, tratamentos eficazes e desenvolvimento urgente de vacinas. Além de levar à morte, as cargas sociais e econômicas associadas são imensas e impactam desproporcionalmente as populações mais vulneráveis.
A luta deve ser coletiva e coordenada. Unir forças e redobrar nossos esforços na luta contra a dengue garantirão um futuro mais saudável e seguro para todos. E o compromisso deve ser contínuo e de longo prazo. Embora existam avanços na pesquisa e no desenvolvimento de vacinas, ainda há desafios significativos a serem superados.
É hora de agir como em uma guerra, antes que seja tarde demais.
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