Violência

Artigo: Robinho e o alerta à família

Há quem atire a primeira pedra nas categorias de base nas cobranças por mudança de comportamento na formação dos jogadores de futebol depois das condenações de Robinho e de Daniel Alves por estupro

Robinho -  (crédito: Reprodução Instagram)
Robinho - (crédito: Reprodução Instagram)

Há quem atire a primeira pedra nas categorias de base nas cobranças por mudança de comportamento na formação dos jogadores de futebol depois das condenações de Robinho e de Daniel Alves por estupro. O alvo está errado. O problema começa em outra base: a família. Pais, mães ou responsáveis precisam assumir o papel de educar.

Um dia desses, caminhava pela rua. No trajeto, um menino coloca o pênis para fora do short e urina no meio da rua. A mãe guardava pertences no carro naturalmente, como se o menino estivesse no banheiro de casa. Quando o comportamento não é corrigido, pode virar mau hábito para a vida. Lembram do Ronaldo mijando no gramado diante das câmeras do mundo inteiro nos Jogos Olímpicos de Atlanta-1996? Muita gente achou aquilo engraçadinho.

Você reparou a quantidade de homens importunando mulheres mostrando o órgão genital? A educação passa, pelas divisões de base, mas precisa começar na família. Quais ensinamentos são assimilados por uma geração cada vez mais conectada ao smartphone e menos a diálogos ou brincadeiras saudáveis com pais, mães, tios, avós? O que passa pela tela sem moderação? Tutoriais para importunar, violentar mulheres quando a resposta é não?

Há 20 anos, Robinho, preso desde a noite de quinta-feira na Penitenciária de Tremembé (SP), 11 anos depois de um estupro coletivo contra uma mulher albanesa numa boate de Milão, na Itália, demonstrava falta de limite.

Diego, amigo inseparável de Robinho à época, tinha 18 anos. O meia se posicionava para uma fotografia com o uniforme de treino da Seleção no Pré-Olímpico do Chile para os Jogos de Atenas-2004. De repente, surge Robinho. Ele entra em cena, baixa o calção do colega e o deixa de cueca e a camiseta com o escudo da CBF. O flagra de Vanderlei Almeida foi parar nos portais de internet. No dia seguinte, a imagem estava estampada nas capas dos jornais.

Houve quem gargalhasse, tentasse minimizar, considerando "coisa de menino, molecagem". Poucos lebraram que não pode puxar o calção do coleguinha. A atitude abriu crise na CBF e na Seleção olímpica. Uma cartilha tentou resgatar a ordem no grupo.

Chamo atenção para uma atitude de Robinho durante o episódio. Ele perguntou ao fotógrafo se havia registrado. À época, Vanderlei Almeida tinha 25 anos de cobertura esportiva. Apertou o dedo no botão como se não houvesse amanhã. Robinho apelou: "Porra, tu fez a foto?" A resposta estava no visor da máquina.

Nove anos depois de baixar o calção de Diego, Robinho participava de um estupro coletivo de acordo com inquérito da Justiça italiana. A violência aconteceu em 2013. A prisão demorou 11. Que sirva de alerta para famílias, clubes, jogadores bajulados, empoderados por parças e pela sensação de impunidade. Os limites devem começar na base: o lar.

 


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postado em 23/03/2024 06:00
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