O governo vai ter que lidar com cada vez mais queixas de empresários em relação aos produtos chineses. Para atender à pressão do setor siderúrgico, abriu um processo de investigação de dumping contra as siderúrgicas chinesas. Postergou a adoção de tarifas adicionais como pleiteiam empresários do setor siderúrgico. Mas não escapa da pressão e terá de se posicionar de forma mais firme se efetivamente quer defender os interesses da indústria nacional.
Depois de o setor siderúrgico alertar para os efeitos da invasão de importados no setor produtivo nacional, agora é a vez de a indústria química pressionar o governo para adotar tarifas adicionais sobre itens importados. Representantes do setor estiveram na sexta-feira no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para discutir pautas do setor com o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin.
Mas o encontro, agendado para discutir a política global e local de resíduos plásticos, acabou se transformando em discussão sobre a necessidade de se adotar medidas em relação às importações que no ano passado tiveram um crescimento de 30,9%, afetando as empresas brasileiras que, juntas, respondem por 12% do PIB. A reivindicação da indústria química é a mesma do setor siderúrgico, e ocorre em função de a China, com menos crescimento econômico, despejar produtos no mundo ocidental, com maior penetração em países que ainda não adotaram tarifas adicionais.
O governo age com cuidado por temor de que tarifas adicionais tenham impacto sobre os índices de preços e também para não se indispor com o maior cliente de nossas exportações. Mas essa não é uma situação que possa se manter por um período longo, sob pena de as indústrias nacionais demitirem e revisarem planos de investimentos. Até porque o governo atendeu ao pleito da indústria automotiva em relação aos veículos elétricos e híbridos, cuja importação disparou no ano passado.
Não se pode agir em favor de um setor em detrimento de outros. No caso dos carros elétricos, o governo determinou a elevação gradual da tarifa de importação até alcançar 35% em julho de 2026. Essa decisão, associada ao Programa de Mobilidade Verde (Mover), levou o setor automotivo a anunciar investimentos que superam R$ 100 bilhões nos próximos anos. E a pergunta que se faz é se todo esse investimento vai ser feito com insumos (aço e produtos químicos/plásticos) importados, com a geração de empregos se dando fora do país.
É preciso estar atento sim ao impacto que a elevação da tarifa sobre produtos importados pode ter sobre os preços, mas também deve-se proteger a indústria nacional, considerando que o desenvolvimento e a produção de automóveis demanda toda uma cadeia de fornecedores que devem atuar de forma conjunta para desenvolver o mercado interno e se ajustar às mudanças climáticas. Todos os setores reconhecem no ministro Alckmin o interesse em equacionar os problemas, mas estamos perto de um quadro que exige mais do que apenas interesse. É preciso defender a indústria brasileira.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br