Não houve silêncio, nem haverá. Na última sexta-feira, Dia Internacional da Mulher, percebi algo novo – na verdade, não novo exatamente, mas talvez com maior visibilidade: o amadurecimento das discussões, reflexões, debates em relação aos direitos da mulher. Menos festas e felicitações bobas e mais argumento, mais luta, mais notoriedade para ações femininas que estão combatendo na prática a opressão sistêmica e o machismo.
Como disse a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), única mulher entre os 11 ministros: “Dizem que nós fomos silenciosas historicamente. Mentira. Nós fomos silenciadas, mas sempre continuamos falando, embora, muitas vezes, não sendo ouvidas”.
É um fato e, quando observamos os números, permanece óbvio o tamanho do abismo que ainda teremos que ultrapassar. Mulheres ganham, em média, 21% a menos que os homens, apesar de serem mais escolarizadas. Gastam 10 horas a mais do que os homens com trabalho doméstico. As estatísticas de violência e feminicídios são alarmantes: a cada seis horas, uma mulher é morta por um homem apenas por existir, por ser quem é, pelo seu gênero. Quando se faz o recorte por raça, a situação é ainda pior para mulheres pardas e pretas.
Mas o avanço na luta é perceptível. Nas manifestações, mesmo nas postagens em redes sociais; nas atitudes do dia a dia de muitas mulheres, que já reconhecem abusos antes normalizados; na exigência mais ruidosa por mais participação feminina nos espaços de poder, tanto no Judiciário quanto no Executivo.
Quero destacar a importância dos coletivos de mulheres em todas as áreas. Mostramos no Correio o exemplo do Juntas, um coletivo nacional, que existe desde 2011. No DF, o grupo atua desde 2013 organizando e participando de manifestações contra desigualdades sociais. A organização teve participação ativa no andamento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Feminicídio na Câmara Legislativa (CLDF), sugerindo recomendações ao poder público que foram incluídas no relatório final.
Também existem as mentorias. Executivas e empreendedoras que se unem para ajudar outras mulheres de forma gratuita, agregando conhecimento e impulsionando suas carreiras e negócios em todas as áreas.
Mostramos ainda, nas páginas do jornal, instituições independentes que promovem atividades que focam na saúde mental, no empoderamento e na autonomia de mulheres. É o caso da Federação Habitacional do Sol Nascente (Fehsolna) e da Ação Social das Caminheiras de Antônio de Pádua (Ascap), que oferecem cursos profissionalizantes, criam elos entre mulheres e as ajudam a saírem de situações de vulnerabilidade.
São mulheres que ajudam mulheres em um movimento de sororidade e empatia, que tem operado revoluções cotidianas na vida de muitas. Não vamos parar – nem de falar, nem de protestar, nem de crescer, nem de nos ajudar mutuamente.
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