Educação

Ensino médio, uma tragédia que tem cura

Estudo revela que são 500 mil jovens acima de 16 desistindo da escola a cada ano no Brasil, o que coloca o país em desvantagem quando comparado a outras nações

Consulta pública para avaliar o Novo Ensino Médio termina na quinta-feira: secretários estaduais de educação são contra a revogação da reforma -  (crédito: Agência Brasil)
Consulta pública para avaliar o Novo Ensino Médio termina na quinta-feira: secretários estaduais de educação são contra a revogação da reforma - (crédito: Agência Brasil)

Atrair e reter mais alunos no ensino médio é urgente. Segundo o estudo Combate à evasão no Ensino Médio — Desafios e Oportunidades, realizado pela Firjan-Sesi em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), são 500 mil jovens acima de 16 anos desistindo a cada ano do ensino médio no Brasil.

Esse meio milhão de desistentes poderiam ser alojados em aproximadamente 2.500 Boeings 737, o que corresponderia a uma queda de um avião por dia. Quando acontece um desastre aéreo, ocorre uma ampla investigação que, invariavelmente, resulta em novas recomendações para evitar que a tragédia se repita. No caso da evasão escolar, isso não acontece — deixamos que várias tragédias se acumulem. Diariamente, silenciosamente.

Estamos em grande desvantagem em relação a outros países, como México, Colômbia e Costa Rica, com a conclusão do ensino médio sendo conquistada no Brasil por apenas seis em cada 10 jovens até os 24 anos. Apenas metade dos jovens brasileiros terminam o ensino médio até os 18 anos.

O problema é mais grave quanto mais vulnerável for a população: apenas 46% dos jovens do quinto populacional mais pobre concluem o ensino médio, contra 94% dos jovens mais ricos. Esses números destacam uma dimensão central no debate educacional brasileiro: as enormes desigualdades de oportunidades educacionais que marcam a trajetória escolar de crianças e jovens no Brasil.

Segundo o estudo Firjan-Sesi e Pnud, a literatura internacional mostra que o ensino médio traz altos retornos financeiros para os alunos, por meio de maior produtividade, maiores salários, menor chance de gravidez na adolescência, melhor saúde e ganhos para a sociedade, em razão de menores índices de violência. Também contribui para o aumento da produtividade na economia do país.

No Chile, 93,4% dos jovens completam o ensino médio. Se o desempenho do Brasil fosse igual, o custo evitado para o país seria de R$ 135 bilhões por ano, segundo cálculos inéditos apresentados no estudo. Além do diagnóstico, o estudo Firjan-Sesi-Pnud apontou alternativas de combate à evasão a partir de pesquisa de experiências bem-sucedidas no Brasil e no mundo, tendo reunido quase 100 experiências nacionais e internacionais para que sirvam de referência e inspiração para os gestores públicos, apontando caminhos concretos, todos viáveis e testados.

A garantia de condições financeiras para que o aluno priorize os estudos nessa etapa escolar se encaixa no escopo de soluções reconhecidas por boas experiências já testadas no mundo. E, no Brasil, acaba de ser lançado o Pé de Meia, programa do governo federal de bolsa-auxílio aos jovens do ensino médio que vivem em situação de vulnerabilidade, segmento que apresenta a maior taxa de evasão.

O programa consiste na oferta de bolsa mensal no valor de R$ 200, sendo uma parcela na matrícula e outras nove ao longo do período letivo. A cada ano, se aprovado, o aluno receberá mais R$ 1.000 e, ao fim dos três anos de ensino médio, mais R$ 200 como estímulo à participação no Enem. Serão beneficiados 2,5 milhões de estudantes, entre alunos das escolas públicas cuja família esteja inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal e os que participam de programas de Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Os valores serão creditados em conta-corrente do próprio aluno. Os critérios para concessão da bolsa são: matrícula, frequência mínima de 80%, aprovação e participação em avaliações externas.

Iniciativas como o Pé de Meia, aliadas a outras ações no âmbito das secretarias estaduais de educação e das próprias escolas, podem significar um ponto de inflexão na educação brasileira e, por conseguinte, no futuro de nossos jovens.

A evasão escolar no ensino médio é uma tragédia silenciosa que amplifica desigualdades sociais e impacta a economia brasileira. Trata-se de uma âncora que prende jovens em um ambiente de pobreza, os impede de inserir de forma produtiva no novo mundo do mercado de trabalho e afunda o Brasil. Mas como mostrou o trabalho da Firjan, Sesi e Pnud, é uma tragédia que tem cura.

*EDUARDO EUGENIO GOUVÊA VIEIRA, Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

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Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira - Opinião
postado em 04/03/2024 06:00
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