Quatro declarações em diferentes contextos marcaram o futebol nesta semana. Quatro formas de amor. As expressões são de uma mãe, de uma mulher vítima de violência sexual, de uma criança e de um goleiro pai de família.
Condenado pela Justiça da Espanha a quatro anos e seis meses de prisão pelo estupro de uma jovem numa boate de Barcelona, em dezembro de 2022, semanas depois da eliminação do Brasil pela Croácia na Copa do Mundo do Catar, Daniel Alves ainda tem quem nele acredite. Como não respeitar o amor incondicional de uma mãe?
Impedida de ter contato com o filho no julgamento, em Barcelona, Dona Maria Lúcia Alves se manifestou nas redes sociais na última quinta-feira, depois da leitura da sentença do filho, na Espanha. “Inocente, sim. Essa decisão não é a final”, repostou da publicação da advogada dela, Graciela Queiroz.
A manifestação de dona Maria Lúcia Alves soa absurda. Não quando lembramos de uma passagem da Bíblia. Livro de Isaías, capítulo 49, versículo 15: “Porventura pode uma mulher esquecer-se do filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre?”. Amor genuíno de mãe tem o meu respeito. O ato de Daniel Alves, não.
Tão forte como a declaração de dona Maria Lúcia Alves é a da vítima, cujo nome é mantido sob sigilo. A ótima reportagem dos colegas Thiago Arantes e Talyta Vespa publicada no UOL na última quinta-feira conta como a mulher estuprada recebeu a notícia da condenação no escritório da advogada dela, Ester García López, em Barcelona: “Acreditaram em mim, acreditaram em mim, acreditaram em mim”, expressou, em celebração ao amor próprio, por uma causa e pela quebra de tabus.
A palavra da mulher quase sempre foi questionada. Colocada em xeque em situações de violência. No futebol, elas logo eram chamadas de maneira pejorativa como “marias-chuteiras”. Talvez, a vítima de Daniel Alves não tenha noção, mas ela pode ter se transformado em símbolo, marco mundial do encorajamento pela denúncia contra qualquer tipo de violência contra a mulher.
Da consciência da vítima à inocência de uma criança. Bella, filha do lateral Dudu, comoveu o país com uma frase em vídeo viralizado. “Papai, você se machucou no trabalho?”. O jogador é uma das vítimas do atentado de torcedores ao ônibus do Fortaleza na inesgotável onda de barbárie no futebol nacional.
Para não dizer que não falei das flores, encerro com o emocionante depoimento de um pai de família. Herói do Porto Velho (RO) contra o Remo-PA na primeira fase da Copa do Brasil, o goleiro Digão chorou depois da partida: “Esse período está sendo muito difícil. Perdi recentemente um grande incentivador, meu avô, perdi um filho e pensei sinceramente em parar”, desabafou.
Quatro frases. Quatro contextos diferentes. Quatro maneiras humanas de enxergar o futebol muito além da bola.