Economia

Perspectivas para a indústria química brasileira em 2024

Na esteira da competitividade, permitir a entrada indiscriminada de produtos químicos estrangeiros pode minar não apenas a capacidade produtiva local, mas também comprometer a segurança, os empregos e a autonomia do país

ANDRÉ PASSOS CORDEIRO
Presidente-executivo da Abiquim

O ano de 2023, antes previsto como de modesta recuperação, se revelou como um dos mais desafiadores para a indústria química brasileira. Marcado pela intensificação das dificuldades em razão do atual cenário geopolítico, o setor teve que encarar as consequências do deficit comercial, agravado pelo aumento de produtos importados, principalmente de países asiáticos. O volume de importações de produtos em 2023 alcançou US$ 61,2 bilhões, enquanto as exportações somaram US$ 14,6 bilhões, 15,6% menor do que em 2022.

Na esteira da competitividade, permitir a entrada indiscriminada de produtos químicos estrangeiros pode minar não apenas a capacidade produtiva local, mas também comprometer a segurança, os empregos e a autonomia do país. Ao adotar uma postura assertiva na regulamentação das importações, o Brasil resguarda a integridade de seu complexo industrial estratégico. Para 2024, propomos uma abordagem proativa na implementação de políticas de importação. A primeira e emergencial medida para conter essa distorção deve ser a inclusão de 77 produtos químicos que sofrem aumento anômalo de importações à Lista de Elevações Transitórias à Tarifa Externa Comum (TEC).

Apesar dos desafios, é crucial reconhecer que conquistas importantes foram alcançadas. A retomada do Regime Especial da Indústria Química (Reiq) e das tarifas de imposto de importação, resultado dos esforços da Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM) e seus parceiros, prometem proporcionar um novo fôlego para a indústria química nacional.

Olhando para frente, identificamos a necessidade de manter e expandir nossos esforços. Outro passo fundamental é a busca pela redução dos custos do gás natural, incluindo as matérias-primas derivadas, como etano, propano e butano, essenciais para o consumo na indústria química. Já percebemos nas declarações do Governo Federal uma sensibilidade às nossas preocupações. Seus líderes estão cientes dos desafios relacionados ao custo da molécula, considerando tanto o escoamento quanto o processamento.

Para fortalecer ainda mais a indústria química, é essencial estabelecer mecanismos de incentivo específicos para a abordagem sustentável, que abrangem desde a produção de óleos vegetais até soluções para a descarbonização e mobilidade verde. Através de políticas comerciais, devemos destacar sua natureza mais consciente, que, embora gere custos mais altos, merece proteção contra concorrência desleal que se baseia em matérias-primas, energia e processos industriais mais poluentes e, portanto, mais baratos, principalmente contra o dumping ambiental.

A liderança brasileira na rota alcoolquímica, produzindo químicos a partir do etanol em sinergia com a indústria sucroenergética, nos posiciona como o maior produtor mundial de polímeros verdes. Não nos limitamos a isso, com investimentos significativos na rota oleoquímica, utilizamos óleos naturais para o desenvolvimento de produtos químicos de forma limpa e sustentável.

A indústria química instalada no Brasil deve ser reconhecida como um patrimônio nacional, contribuindo significativamente para o desenvolvimento sustentável. Com uma abundância de fontes de energia renováveis e baixos índices de emissões de gases de efeito estufa, o país está bem posicionado para liderar a transição de uma economia linear para uma que prioriza a reutilização, a reciclagem e a eliminação responsável de resíduos.

Defendemos a transição para uma economia mais circular e continuaremos buscando parcerias público-privadas que garantam a competitividade do setor, gerando benefícios em cascata e promovendo a soberania da indústria nacional.

 


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