Falta de profissionais e dificuldade de acesso a medicamentos. Ontem, Dia Internacional de Luta Contra o Câncer Infantil, várias entidades, pediatras e oncologistas expuseram a triste realidade de bebês e crianças diagnosticados com a doença no Brasil. Diferentemente de outras patologias, o câncer infantil raramente tem aquela lista de fatores de risco. Não é porque o pai é tabagista há décadas ou a mãe consome bebida alcoólica com certa frequência que a criança tem maior chance de desenvolver alguma neoplasia. Entre todos os tumores, o câncer infantil representa cerca de 3%. Para este ano, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que serão registrados 8.460 novos casos no país e 2.425 mortes de pacientes com até 19 anos.
A Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope) e a Confederação Nacional de Instituições de Apoio e Assistência à Criança e ao Adolescente com Câncer (Coniacc) se uniram para divulgar um levantamento sobre a assistência a pacientes com idades até 19 anos. Os primeiros resultados são altamente negativos. Mesmo o câncer sendo a principal causa de morte por doença entre crianças e adolescentes no Brasil, há poucos dados sobre as condições de assistência a esse público.
A fragilidade das instituições faz com que o acesso a informações básicas como principais sintomas, diagnóstico, exames e tratamentos adequados seja deficitário. A escassez de especialistas, no caso oncologistas pediátricos, impede que os doentes e suas famílias sejam acolhidos pelas unidades de apoio por total falta de informação.
Essa imprecisão e, de certa forma, abandono a esse grupo faz com que o diagnóstico seja tardio, ou seja, grande parte das crianças chega aos hospitais e unidades de saúde com a doença em estágio avançado, o que leva a um descompasso entre a intensidade do câncer e a realização de exames e, posteriormente, o tratamento.
Um outro estudo, publicado em 2021 pelo Instituto Desiderata, mostra que 43% dos adolescentes são atendidos em hospitais não especializados em oncologia pediátrica. O mesmo ocorre com 30% dos bebês menores de um ano e com 24% das crianças e adolescentes até 14 anos; dos pacientes que não iniciam o tratamento, 40% alegam ser por falta de informação.
Mas nem tudo é negativo. Desde que o diagnóstico seja feito precocemente, com o tratamento correto, a chance de cura pode chegar a 85% dos casos. Daí a importância da ida ao pediatra e a observação de sintomas como febre, dor de cabeça e indisposição. Em alguns casos, esses sintomas podem estar associados à anemia por deficiência de vitaminas e viroses. A leucemia, por exemplo, é marcada por febre, palidez e surgimento de linfonodos.
É preciso um olhar do poder público sobre a falta de conhecimento que retarda ou impede chances de cura. Campanhas voltadas para famílias podem ajudar a fazer circular as informações, com orientações aos pais sobre a atenção a possíveis sinais como sangramentos, hematomas, caroços e inchaços, dor nos ossos e letargia. Nunca é demais reforçar a necessidade de conversar com o filho, observar possíveis incômodos e estar em dia com as visitas ao médico.