Discriminação

A escalada do racismo antissemita no Brasil

No Brasil virou moda entre a esquerda, as pessoas dizerem que não são antissemitas, mas, sim, que apenas são antissionistas. Para os judeus brasileiros é triste ouvir isso de líderes importantes e até juristas respeitados

» Paulo Feldmann, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP)

Imagine a seguinte cena: um político brasileiro participa de uma live levada ao ar pelo YouTube e declara que os brasileiros não devem comprar produtos de lojas de pretos, ou então de LGBTQIAPN , ou de feministas. Se isso tivesse realmente acontecido, esse político seria severamente reprimido por toda esquerda e por todos movimentos de defesa dos direitos humanos. Por sinal com toda razão, e a pena teria que ser das mais altas, o que certamente aconteceria, felizmente.

Pois bem aconteceu exatamente isso, só que o político José Genoíno referiu-se não aos grupos acima mencionados, mas sim aos judeus. Genoíno não foi sequer advertido e muito menos punido e sua recomendação já começou a ser seguida por algumas pessoas, tanto que já tivemos, uma semana após sua fala, pelo menos um caso claro de ataque a uma loja de uma judia na Bahia.

O fato é que ninguém pediu explicações a Genoíno, e poucos dias depois, ao contrário, três ministros que estavam num mesmo ato que ele — Paulo Teixeira, Silvio Almeida e Luiz Marinho — lhe declararam total apoio e solidariedade. A proposta de Genoíno foi exatamente o que Adolf Hitler implementou na maioria dos países europeus há cerca de 90 anos. Foi o preambulo do holocausto. Por sinal, meus avós de ambos os lados fugiram da Europa naqueles momentos e tiveram a sorte de vir para o Brasil. Meus pais aqui se conheceram e casaram. Ou seja, sou fruto do medo ao antissemitismo idêntico ao usado por alguém que já foi presidente do PT.

Aliás, a atual presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu um jornalista que estava sendo processado por uma entidade judaica, a Confederação Israelita Paulista (Conib). A acusação, mais que comprovada, contra o jornalista é de pregar o fim do Estado de Israel e principalmente por ter comparado judeus com ratos. Para Gleisi isso não foi grave. E infelizmente não ficou apenas nisso: Gleisi ofendeu os 150 mil judeus brasileiros ao dizer que temos dupla lealdade — à Israel e ao Brasil — ao afirmar que a Conib estava trabalhando para Israel.

O antissemitismo cresceu no Brasil mais de 1.000% em apenas três meses. Muito a ver com a reação israelense para se defender do Hamas, grupo terrorista. A guerra Hamas X Israel infelizmente matou milhares de palestinos. Não defendo o governo israelense e acho que o reconhecimento do Estado Palestino por parte de Israel está atrasado há mais de 70 anos, mas acusar Israel de ser um país que comete genocídio demonstra, no mínimo, total desinformação histórica por parte dos acusadores. Tanto assim que quando o assunto foi levado para a Corte de Haia pela África do Sul, com apoio do Brasil, a acusação perdeu a relevância. Israel foi criticado por outros aspectos, mas não por praticar genocídio.

No Brasil virou moda entre a esquerda, as pessoas dizerem que não são antissemitas, mas, sim, que apenas são antissionistas. Para os judeus brasileiros é triste ouvir isso de líderes importantes e até de juristas respeitados. Ou seja, na visão dessas pessoas, os judeus são o único povo do mundo que não tem direito a sua autodeterminação e Israel nem deveria existir. Provavelmente essas pessoas estão à espera de um novo holocausto. Sabemos que Hitler não teria levado à frente sua empreitada de aniquilar quase 6 milhões de judeus se naquela época já existisse o Estado de Israel.

A verdade é que essa guerra é uma tragédia humanitária tanto para israelenses como para palestinos. Os dois povos precisam entender que não há saída que não envolva ambos trabalhando juntos para garantir uma solução de dois Estados. Imaginem o Oriente Médio pacificado e trabalhando de forma integrada para promover o bem-estar dos povos que lá habitam. É a única forma de se chegar a uma paz duradoura.

Se o Brasil tivesse seguido a tradicional orientação do Itamaraty de neutralidade, provavelmente estaríamos mais do que qualificados para atuar como mediadores neste momento difícil da guerra. Mas ao preferir atacar Israel, e não mencionar que o Hamas é um grupo terrorista, nosso país se descredenciou e perdeu a oportunidade de passar para a história como um país que trabalha para buscar a paz.

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