CELSO LUIZ TRACCO
Economista, teólogo, escritor
A desigualdade tem sido uma característica arraigada em nossa sociedade por séculos, principalmente para aqueles que residem em grandes cidades brasileiras, basta sair às ruas para deparar-se com manifestações visíveis dessa disparidade social. Crianças se expondo nos cruzamentos em busca de algumas moedas, pessoas segurando cartazes de papelão em busca de emprego para sustentar suas famílias, e supostas mães com supostos filhos pedindo esmolas são apenas algumas das muitas expressões da pobreza que, infelizmente, afetam milhões de pessoas.
Além dessas formas mais óbvias de desigualdade, há também questões mais graves que pesam em nossa consciência: dependência química, refugiados de outros países e moradores de rua que diariamente nos confrontam com a realidade de que algo está profundamente errado em nossos esforços para combater a desigualdade social.
É evidente que essa situação social, cada vez mais preocupante, só tende a piorar. Os governos no Brasil, seja em nível municipal, estadual, seja federal, demonstram-se absolutamente despreparados e ineficazes para lidar com essas questões. Em geral, medidas paliativas e caras são anunciadas, especialmente em anos eleitorais, apenas para serem rapidamente esquecidas. Infelizmente, sem uma ação decisiva da sociedade, nada mudará. Como bem afirmou André Franco Montoro, ex-governador do estado de São Paulo, ninguém vive na União ou no Estado. Nosso lugar é em um município.
Aqui, surge a pergunta: qual é a minha contribuição dentro do meu município? Para aqueles que veem as situações de crise como oportunidades para obter lucro, sempre há maneiras de explorar monetariamente o sofrimento alheio. Por exemplo, um fabricante de produtos de higiene pode aumentar os preços após uma enchente. Ou os comerciantes podem elevar os preços da água engarrafada, alimentos, roupas, entre outros. Todas as crises geram uma série de oportunidades, inclusive as financeiras. Estão esses indivíduos atentos apenas aos seus próprios interesses, sem se importar com aqueles que estão em necessidade?
Outra postura possível é a indiferença. Afinal, o problema não nos diz respeito. Pagamos nossos impostos religiosamente, trabalhamos duro para conquistar o que temos, somos éticos, honestos e sentimos que nossa consciência está limpa. "Cada um cuide do que é seu. Isso é problema do governo", dizem alguns.
No entanto, cada vez mais pessoas estão engajadas em agir voluntariamente para, pelo menos, amenizar o sofrimento daqueles que estão em necessidade. Esses cidadãos e cidadãs preocupam-se com o bem-estar dos outros e têm compaixão. Eles compartilham o que podem, tanto com bens quanto com tempo, para aliviar o sofrimento alheio.
Devemos sempre agir com empatia em relação aos mais necessitados, mas também devemos cobrar constantemente nossos governantes, pois eles são servidores públicos eleitos democraticamente para representar a sociedade por um período determinado. Uma sociedade mais justa, igualitária e solidária dependerá, em última análise, das nossas ações.