Azerbaijão

Análise: os próximos passos da relação Baku-Brasília

Primeira eleição presidencial da história realizada em todo o Azerbaijão reuniu 790 observadores de 89 países, acompanhados de 216 jornalistas estrangeiros de 109 veículos de comunicação

O contraste é a marca da capital do Azerbaijão. As ruas estreitas e de pedras portuguesas, com construções do século 19, se entrelaçam com largas avenidas e carros de luxo. Prédios antigos típicos da extinta União Soviética ficam ao lado de modernos arranha-céus. A cidade é um canteiro de obras. Há empreendimentos em andamento por todos os lados. O dinheiro do petróleo e do gás natural trouxe muita riqueza e investimentos para Baku.

Nesta semana, o Azerbaijão atraiu os olhares da comunidade internacional. A primeira eleição presidencial da história realizada em todo o país reuniu 790 observadores de 89 países, acompanhados de 216 jornalistas estrangeiros de 109 veículos de comunicação. Os representantes brasileiros, os senadores Carlos Viana (Podemos-MG) e Nelsinho Trad (PSD-MS), elogiaram a transparência e o crescente aumento na participação de mulheres e jovens. Lá, o voto não é obrigatório.

Em contraponto, os 335 observadores enviados pela Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) criticaram a falta de alternativas e a ausência de vozes críticas ao presidente Ilham Aliyev, reeleito com mais de 92% dos votos. Embora seis candidatos tenham participado da disputa, ressalta a OSCE, "nenhum deles desafiou as políticas do atual presidente, deixando a população sem outra possibilidade genuína de escolha". A existência de uma oposição ferrenha e crítica é uma marca das principais democracias. Sem dúvida, essa é uma questão a se aprimorar. Jornalistas azerbaijanos mostravam-se curiosos em saber de nós latinos, no caso, Brasil, Argentina e Uruguai, como é trabalhar em uma nação com "imprensa livre".

No fim do ano, Baku estará novamente no centro das discussões mundiais. Vai sediar a COP29, a cúpula do clima da Organização das Nações Unidas. E aqui entra o papel do Brasil, afinal, em 2025, será a vez de Belém, com a COP30. Em conversa ontem com o embaixador Elchin Amirbayov, um dos principais conselheiros de Aliyev, abordamos como o país do Cáucaso pretende se relacionar conosco neste e nos próximos anos.

Inicialmente, é esperado um aumento nas transações comerciais entre as duas economias. Fertilizantes e a indústria aérea são as duas áreas com grande expectativa de bons negócios para os dois lados. O governo azerbaijano também vê o Brasil como um importante aliado na comunidade internacional, principalmente nas discussões em relação ao tratado de paz com a Armênia, após o fim da guerra na região de Nagorno-Karabath.

Mas será com as duas COPs que deve ocorrer a maior interação entre os países. Delegações visitantes são esperadas tanto lá quanto cá. Debates sobre a transição dos combustíveis fósseis, base da economia azerbaijana, para a renovável, grande aposta brasileira, devem se tornar mais frequentes. Vamos ouvir muito falar de Baku nos próximos meses. Está apenas no início.

 


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