Embora seja um dos produtos televisivos mais assistidos e comentados, um reality show — seja qual for a sua temática — não é uma unanimidade. Há quem ame, há quem odeie e há quem ignore. Fato é que, independentemente dessa questão sobre audiência e repercussão, um programa de tevê como o Big brother Brasil vai além do entretenimento. Logo nos primeiros dias, por exemplo, a desistência de uma participante trouxe um importante alerta sobre o comportamento social da atualidade.
Há uma simbologia importante no ato de se apertar um botão de desistência em um reality show. O que levaria, por exemplo, uma jovem influenciadora de 22 anos, com um total de 40 milhões de seguidores, acostumada a exposição pública, a abrir mão de uma experiência como essa? Repercutiu-se muito sobre as razões da participante Vanessa Lopes, que nitidamente vivenciou uma espécie de surto dentro do confinamento com outras 25 pessoas, longe da família e dos amigos e, principalmente, do acesso às redes sociais.
A internet permeia as nossas vidas, e a juventude contemporânea é a primeira a ser criada em um ambiente onde a conexão virtual supera a interação cara a cara. A tecnologia proporciona inúmeras oportunidades, mas há que se analisar os potenciais danos que uma geração excessivamente conectada pode enfrentar, especialmente quando esse lugar se distancia da vida real.
A perda do desenvolvimento de habilidades sociais interpessoais é real. Jovens que passam grande parte do tempo on-line enfrentam dificuldades ao se comunicarem pessoalmente, ao expressar emoções e interpretar sutilezas na linguagem corporal. Essa falta de interação presencial pode inviabilizar a construção de relacionamentos sólidos.
A exposição constante a padrões irreais nas redes sociais pode contribuir para a formação de uma autoimagem distorcida. No caso de Vanessa Lopes, o principal drama foi se enxergar em um jogo onde todos os atores envolvidos estavam posicionados em volta da sua história. Essa busca incessante por validação on-line, muitas vezes baseada em likes e comentários, pode levar os jovens a uma caça constante por aceitação que prejudica a autoestima quando não são alcançados os padrões inatingíveis estabelecidos pelos ambientes virtuais que domina.
Aos pais, cabe a orientação das crianças e adolescentes sobre como utilizar o smartphone de maneira responsável. Estabelecer limites de tempo on-line, incentivar a participação em atividades sociais e promover a comunicação aberta são estratégias essenciais para ajudar a juventude a encontrar um equilíbrio saudável entre as interações virtuais e reais.
Enquanto a internet e a tecnologia continuam a moldar o mundo, é vital que as futuras gerações sejam estimuladas a navegar neste ambiente digital sem que se perca uma conexão significativa com a vida real. O desafio é esse.