A tentativa de golpe de Estado em 2023 felizmente falhou, mas são assustadoras as informações divulgadas pela Polícia Federal na semana passada. Uma reunião oficial, de ministros, em pleno Palácio do Planalto, foi usada para discutir abertamente a intervenção no processo eleitoral. Forças Especiais do Exército seriam usadas para prender autoridades. Várias minutas com declaração de estado de sítio foram encontradas pelos investigadores. Enfim, vimos a máquina pública ser completamente aparelhada em benefício próprio, para romper a democracia e se manter no poder.
Ainda há muito o que ser respondido, mas a articulação exposta pela PF é suficiente para confirmar a tentativa de golpe — algo que, sejamos honestos, pouca gente duvidava. É preciso esperar tanques e militares na rua para considerar um golpe? Não, eles são apenas o passo final, a consumação. A ordem seria dada apenas quando tudo estivesse "coberto e alinhado". Quem pararia os tanques? E as tropas de elite?
No nível individual, quem cuida é a Justiça. Que todos os investigados tenham direito à ampla defesa e a um processo justo. Que os culpados sejam responsabilizados. Ponto. Porém, é preciso rever também o funcionamento das instituições quando uma brecha tão grave acontece. Começando pelas Forças, o que está sendo feito para dificultar novas tentativas intervencionistas? Não só neste governo, mas no futuro também. Claro que foram poucos os militares que realmente atuaram na articulação do golpe. Como instituições, as três Forças se mantiveram democráticas. Mas foi uma minoria barulhenta. Pessoas que poderiam dar a ordem para a intervenção, e a ordem seria cumprida.
Como permitimos que a lisura do sistema eleitoral fosse questionada sem provas no Planalto e no Congresso Nacional? Absolutamente nada de concreto foi apresentado que ateste a falha das urnas. Por que foi possível usar o aparato de inteligência para monitorar adversários? Autoridades? Não há uma forma de monitorar e impedir isso?
Como escrevi, felizmente a tentativa falhou. Mas eu não tenho certeza se foi pela força da nossa democracia ou pela incompetência dos que tentaram derrubá-la. Certamente ambos os elementos contribuíram, mas em proporção ainda desconhecida. O que assusta é que, quanto mais informações são reveladas, mais claro fica que ficamos à beira de algo muito pior do que o 8 de janeiro.
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