Oriente Médio

Artigo: Qual é o sentido dessa guerra?

Segundo o Ministério da Saúde, controlado pelo Hamas, em Gaza, mais de 13 mil crianças foram mortas

Corpo de menina retirado dos escombros no campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza -  (crédito: Mohammed Abed/AFP)
Corpo de menina retirado dos escombros no campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza - (crédito: Mohammed Abed/AFP)

Dia desses, nas redes sociais, vi o vídeo de um bebê palestino morto. Parecia um boneco em farrapos. Meu estômago revirou, o coração chorou baixinho. Que guerra é essa, que matou mais de 13 mil crianças (segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas) em Gaza? Que guerra é essa, que arrancou meninos e meninas de suas camas e as lançou dentro de covas coletivas? Que guerra é essa, cujas bombas interromperam gerações inteiras? Que pôs fim a famílias, relegando-as aos álbuns de fotografías. Quantos perfis de palestinos, nas redes sociais, se tornaram memoriais? Quantos sorrisos, expostos no mundo virtual, agora viraram passado e se perderam para sempre no tempo? Quantas mães buscarão um abraço e encontrarão apenas vazio, saudade e dor? Quantos filhos terão apenas lembranças no lugar de um olhar amoroso de seus pais?

Que guerra é essa, que impõe uma punição coletiva a inocentes? Que transforma seres humanos, amontoados na miséria e na desesperança, em espólios de batalha. Que, além da morte, carrega a fome e a sede, destitui a dignidade, celebra o medo e a dor. Que guerra é essa, que não poupa inocentes e, ante tantas baixas civis, sempre existe uma desculpa de quem bombardeia? Gaza sempre foi uma prisão a céu aberto. Tornou-se um cemitério, um campo da morte, um amontoado de ruínas.

Nada justifica a monstruosidade, a barbárie, a perversidade inominável praticada pelo grupo extremista Hamas em 7 de outubro. Mas, também, nada justifica a campanha de bombardeios massivos por parte de Israel contra a população civil. Sempre a mesma ladainha: alegam que o Hamas usa a população civil como escudo humano. Mesmo que isso fosse verdade, ainda assim seria ilegal e imoral bombardeios a esmo para matar extremistas que se protegeriam atrás de inocentes. Exatamente porque o risco de assassinar inocentes seria exatamente igual. Qual é a lógica dessa guerra?

Deixar se levar pela vingança pode ser cultivar o próprio veneno. Alguém dúvida que muitas crianças órfãs serão alimentadas pelo ódio e também pela sanha de retaliação? Serão potenciais ferramentas de matar, recrutadas pelo Hamas e por outros grupos terroristas. O resultado disso é tão certo quanto dois mais dois são quatro: mais atentados no futuro, mais retaliações de Israel, mais dor, mais luto e um círculo vicioso que apenas abrirá ainda mais feridas em ambos os povos.

Os palestinos têm o direito à autodeterminação absoluta, a um Estado independente e soberano. Alguém raciocinou que um acordo de paz definitivo seria uma pá de cal na existência do Hamas e de outras facções, além de abafar as vozes dos judeus radicais e ultraortodoxos. Alguns desses chegaram a propor soluções esdrúxulas para Gaza, como confinar o povo palestino em uma ilha artificial no meio do Mediterrâneo. Que guerra é essa? Qual é o sentido desse mortícinio?

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postado em 07/02/2024 06:00
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