A Copa do Mundo de 2014 completará 10 anos em 12 de junho. Quase uma década depois, as mazelas do ex-país do futebol continuam expostas. Incuráveis. Antes, durante e depois do evento, a competição era tratada pelo governo local, federal, a CBF, o Comitê Organizador e a Fifa como santo remédio. O choque de realidade necessário para reinventar — e modernizar — a relação de 200 milhões de apaixonados com o esporte.
Palavras ao vento. Quantas vezes você ouviu a turma do oba-oba apelar ao legado para justificar investimentos insanos em obras. Algumas inacabadas ou abandonadas. O Brasil zombou do padrão Fifa. Fabricou memes em série para tripudiar da excelência da organização. Uma década depois, mantém sociedade com a esculhambação. Até outro dia, a CBF não tinha presidente; e a Seleção, técnico. Em novembro do ano passado, o pau quebrou na arquibancada do Maracanã antes de Brasil 0 x 1 Argentina.
O Pan-2007, a Copa das Confederações-2013, a Copa do Mundo-2014, a Olimpíada do Rio-2016 e a Copa América em 2019 e em 2021 foram aulas magnas no quintal de casa sobre gestão de grandes eventos. Hoje, há quem venda ingressos on-line e exija que o torcedor saia de casa e dirija-se à fila presencialmente para retirar o tíquete impresso.
O Brasil recebeu gramados de ponta na Copa de 2014. Dez anos depois, é incompetente para oferecer campos naturais ou sintéticos de alto padrão. A semana começou com imagens horripilantes do piso artificial do interditado Allianz Parque do Palmeiras.
Dez anos depois da Copa, perdemos para a violência. O DF é incapaz de dar segurança ao duelo de maior rivalidade da capital: Gama x Brasiliense terá torcida única, no Bezerrão. O maior público recente do duelo é 14.599 pagantes na final de 2019, no Mané Garrincha. Não há garantia de paz aqui nem em São Paulo ou Belo Horizonte. Dérbis paulistas e mineiros são restritos ao mandante, no entanto, a Supercopa Rei entre Palmeiras e São Paulo, organizada pela CBF, receberá tricolores e alviverdes no Gigante da Pampulha. O Carioca e o Gaúcho recebem duas torcidas. Amanhã, o Clássico dos Milhões terá flamenguistas e vascaínos, no Maracanã.
Um dos legados da Copa são arenas erguidas em cidades cujos torneios domésticos não as lotam. O público total dos 51 jogos do Candangão em 2023 deu 26.467 pagantes. Construído por R$ 1,575 bilhão, o Mané Garrincha tem capacidade para 72.788 pagantes.
Resultado: lá se vão 10 anos do "projeto" adote um elefante branco. Em um mês, jogos do Carioca passaram por três estádios deficitários do Mundial de 2014: Mané Garrincha, Arena das Dunas e Arena da Amazônia. Manaus evoluiu. Em uma década, a cidade saltou da Série D para a B. Campeão da C em 2023, o Amazonas FC figura na segunda em 2024. Brasília engatou marcha à ré. Dizia-se que o Mané mudaria o patamar do futebol local. Dez anos depois da Copa, só temos times na última divisão de um Brasileirão que deve virar Liga em 2025, mas hoje é dividido em duas ligas que não conseguem virar uma.
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