Miriam Sales, coordenadora pedagógica da Mind Lab, pós-graduada em docência e performance na educação a distância e estudante e pesquisadora sobre a importância das neurociências para o fazer docente.
Na jornada rumo à construção de uma sociedade mais justa e igualitária, a luta contra o racismo não pode ser um fardo exclusivamente dos educadores negros. Pedagogos e professores tem a responsabilidade de compreender o papel fundamental, na prática antirracista, afinal, a lei (nº 10.639) é para todos. Sancionada há dez anos, alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e inclui no currículo oficial a obrigatoriedade da presença da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
Muitas vezes, inadvertidamente, associamos o racismo apenas àqueles que são diretamente afetados por ele, em muitos casos, as pessoas negras. Essa visão limitada perpetua a ideia de que a luta contra o racismo deve ser liderada somente por educadores negros. No entanto, precisamos romper com essa perspectiva e compreender que o racismo é um mal social, que afeta toda a sociedade. A discussão antirracista não pode ser negligenciada nem transferida para um único grupo, é uma responsabilidade compartilhada por todos.
O racismo não é um problema exclusivo das pessoas negras, é um obstáculo que todos devem superar. Mas é comum ouvirmos professores não negros alegando que não abordam a temática racial por não serem negros, portanto, não teriam o “lugar de fala”. No entanto, a questão do “lugar de fala” vai além da mera representatividade, todos podem falar de acordo com o lugar que ocupam. O racismo é um problema que afeta a todos, independentemente da cor da pele. A necessidade de reflexão e ação não é definida pelo tom da pele, mas pelo compromisso de construir um mundo mais justo.
Djamila Ribeiro, filósofa e escritora que introduziu o conceito de “lugar de fala”, destaca que esse lugar é um “lugar social”. Ou seja, não se restringe somente à representatividade, mas envolve uma consciência racial e um posicionamento político para efetivar ações na prática antirracista. A partir dessa perspectiva, fica evidente que ser um educador negro não basta para discutir questões raciais; a consciência racial é fundamental. Por outro lado, educadores brancos podem e devem ter um lugar social no combate ao racismo, já que a responsabilidade de combater a discriminação e as injustiças é de todos.
A verdade é que ser antirracista é um compromisso coletivo, uma jornada que transcende as barreiras da raça. Educar para a igualdade não é um privilégio, mas, sim, uma responsabilidade. Educadores têm o poder de usar sua posição para desmantelar estereótipos, promover a compreensão e construir pontes entre diferentes grupos étnicos. O racismo é um problema social, e enfrentá-lo é dever de toda a sociedade.
O espaço do educador não negro, na prática antirracista, é essencial, pois ao abraçar essa missão, contribui para a desconstrução de estereótipos e preconceitos arraigados. Como pedagogos e professores, temos o privilégio de desenvolver mentes jovens e influenciar as próximas gerações. Cada lição ministrada, cada diálogo aberto, cada ação inclusiva é um passo em direção a um futuro mais igualitário.
Enquanto educadores, temos a incrível oportunidade de ser catalisadores de mudança. A sala de aula é um espaço de construção, onde as sementes do respeito, empatia e igualdade são plantadas. Nesse processo, a cor da pele não é uma barreira. Ao contrário, é um convite para ser parte ativa da transformação.
Portanto, conclamamos a todos os educadores, independentemente da cor da pele, a abraçarem a educação antirracista como um compromisso coletivo. Nossa luta, nossa responsabilidade.