Quase três anos depois de enfrentar o momento mais crítico da pandemia de covid-19 — em 8 de abril de 2021, as autoridades sanitárias registraram 4.249 mortes em um único dia no Brasil —, o país está em plena guerra contra a dengue. Neste início de 2024, os números da doença estão distantes da calamidade pública que se instalou com o novo coronavírus, mas indicam de forma inequívoca a gravidade da situação. Segundo boletim divulgado pelo Ministério da Saúde na semana passada, mais de 120 mil casos prováveis e 12 mortes foram registrados nas três primeiras semanas de janeiro. É um agravamento significativo em relação a 2023, quando foram notificados cerca de 44 mil casos e 26 óbitos no mesmo período. Ou seja, a incidência da dengue no país praticamente triplicou em 12 meses.
O Distrito Federal, onde se decretou estado de emergência na última quinta-feira, é a única unidade da Federação que aparece em vermelho no mapa da dengue mantido pelo Ministério da Saúde. O DF apresenta o maior coeficiente de incidência de casos prováveis da doença. São 551 registros suspeitos para cada 100 mil habitantes. É mais de duas vezes superior do que o registrado pelo estado do Acre, com um coeficiente de 212. A virose transmitida pelo Aedes aegypti vem com força neste verão, e a capital federal é um dos epicentros.
Neste novo desafio sanitário, é interessante estabelecer um paralelo entre covid e dengue. Não se tem visto, por exemplo, com a mesma intensidade a campanha antivacina que marcou o Brasil entre 2020 e 2021, quando se iniciou o processo de imunização. Pelo contrário: o governo mostra-se empenhado em adquirir doses imunizantes, novamente provenientes do exterior. Deixe-se para trás essa sandice de não vacinar, convém envidar esforços para o Brasil adquirir mais autonomia na produção de imunizantes.
Chama a atenção, ainda, a iniciativa do atual governo de incentivar o engajamento do cidadão no combate à enfermidade que, mais uma vez, assola o país. "O combate à dengue é uma ação de governo, mas tem de ser uma ação também de cada cidadão e de cada cidadã. É necessário lembrar que os focos do mosquito estão 75% nas casas. Então, essa união de esforços é muito importante", ressaltou a ministra Nísia Trindade. Combater a dengue constitui, portanto, um ato de empatia, de solidariedade, de civilidade, de espírito comunitário.
Nada a ver com a ideia obtusa, tão comum em passado recente, de que a liberdade individual está acima do direito coletivo à saúde. Avancemos mais.