Epidemia

Artigo: Educar, informar e comunicar: três aliados essenciais no combate à dengue

Nos primeiros 20 dias deste ano, quase 120 mil pessoas foram atendidas no Distrito Federal, segundo dados da Secretaria de Saúdo DF, o que relete o agravamento da crise sanitária provocado pelo mosquito Aedes aegypti

*Por FÁTIMA SOUSA e VALÉRIA MENDONÇA - Professoras associadas do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília

Infelizmente, não ficamos surpresas com o caos instalado no Distrito Federal, após a explosão dos casos de dengue, somada ao risco iminente de outras arboviroses emergentes, que têm causado pânico e adoecimento generalizado na população, mesmo antes do Governo do Distrito Federal declarar emergência na saúde pública na última quinta.

Somente em nosso entorno, em janeiro, mais de uma dezena de pessoas teve ou ainda está com os sintomas da dengue. Elas são apenas anônimas entre as 119.134 pessoas atendidas até o dia 20, conforme os dados do site InfoSaúde-DF, da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, mas que refletem o estado agravante em que nos encontramos.

Entre as sete regiões de Saúde, a maior incidência de dengue, até a quarta semana epidemiológica, está localizada na Região Sudoeste, com 34.635 atendimentos; seguida da Região Oeste, com 20.932; Centro-Sul, com 14.859 casos; Sul, com 10.637; Central, com 8.942; Norte, com 16.669; e na Região Leste, com 12.460 registros de atendimentos feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Os números nos convocam a continuarmos os trabalhos iniciados em 2017 com o projeto Arbovírus dengue, zika e chikungunya compartilham o mesmo inseto vetor: o mosquito Aedes aegypti — moléculas do Brasil e do mundo para o controle, novas tecnologias em saúde e gestão da informação, educação e comunicação, conhecido como Arbocontrol, o qual tivemos a satisfação de coordenar em âmbito nacional e no componente dedicado às ações de educação, informação e comunicação em saúde.

Sim, precisamos falar e atuar cada vez mais próximos dessa tríade ainda mais necessária. E o projeto Arbocontrol foi fruto de um convênio entre a Universidade de Brasília (UnB) e o Ministério da Saúde, com quatro componentes e uma rede de pesquisadores nacionais e internacionais que atuaram em ações como formação e capacitação de profissionais de saúde; desenvolvimento de inseticidas; diagnóstico de sistemas de informação; desenvolvimento de aplicativos de vigilância; avaliação da efetividade de campanhas; ações de educação, informação e comunicação; entre outras.

A Universidade de Brasília, por intermédio do Laboratório de Educação, Informação e Comunicação em Saúde, segue oferecendo cursos nesse tema aos profissionais de saúde, em especial aos agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias, no DF, chamados de agentes de vigilância ambiental, aos professores da rede pública e às lideranças e comunicadores comunitários na prevenção a dengue, zika e chikungunya. Os cursos são remotos, ofertados nacionalmente, gratuitos e com certificação pela UnB. Além disso, ocorrem oficinas comunitárias presenciais para consciência sanitária da população. E ainda palestras, workshops, produção e distribuição de materiais educativos e desenvolvimento de campanhas de comunicação comunitária, todas projetadas em cocriação para alcançar e engajar diversos segmentos da sociedade.

O Arbocontrol tem o objetivo de apresentar alternativas viáveis, eficazes em longo prazo e ambientalmente sustentáveis para o controle do Aedes aegypti. É preciso utilizarmos estratégias de educação, informação e comunicação a fim de nos prevenirmos de doenças e promovermos a saúde das pessoas, famílias e comunidades. Para auxiliar nesse processo, precisamos ser protagonistas dessa mudança, que somente ocorrerá com a tradução do conhecimento a ser compartilhado entre academia, lideranças e mídias comunitárias, profissionais e gestores do Sistema Único de Saúde, pois precisamos estar à frente do caos e não nos cuidando quando ele está instalado.

É o que hoje buscamos com o projeto Escola Cidadã, que, em 2023, chegou a mais de 1.400 pessoas junto às escolas do Paranoá, Itapoã, Ceilândia e Cidade Estrutural, e que este ano será ampliado, permitindo que levemos ainda outros temas que nos auxiliem a promover a saúde e a prevenir doenças nas comunidades, por meio da ciência que vai aonde o povo está e que também fala a sua língua com ações de educação, gestão da informação e comunicação promotora de saúde.

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