Futebol

Brasil é destino de refugos

Cartolas, executivos, scouts e analistas de desempenho monitoram cada vez mais os chamados refugos. Talentos frustrados ou em dificuldade no processo de adaptação no exterior entram na lista prioritária de compra ou empréstimo

Os olhos dos torcedores de clubes brasileiros brilham diante do volume de investimentos em contratações nesta janela de transferências. Em contrapartida, há um alerta na indústria do futebol: o Brasil continua exportando talentos para a Europa, mas empilha peças com defeito de fabricação devolvidas rapidamente ao mercado nacional.

Arrumar as malas rumo a um time gigante ou mediano do futebol europeu ficou fácil. Difícil é se adaptar ao padrão de excelência cobrado lá. Cartolas, executivos, scouts e analistas de desempenho monitoram cada vez mais os chamados refugos. Talentos frustrados ou em dificuldade no processo de adaptação no exterior entram na lista prioritária de compra ou empréstimo.

Veja o caso de Gabriel Veron. Há quatro anos, o jogador revelado pelo Palmeiras era eleito Bola de Ouro do Mundial Sub-17 disputado no Brasil. Recebeu o prêmio no gramado do Estádio Bezerrão, no Gama, depois da virada por 2 x 1 contra o México na final do torneio. Negociado pela fábrica alviverde com o Porto por 10,3 milhões de euros em 2022, o meia-atacante de 21 anos não conseguiu usar o futebol português como atalho para conquistar espaço em uma das cinco principais ligas da banda de lá do Oceano Atlântico. Voltou à estaca zero do lado de cá. Deixou a academia de futebol candidato a príncipe e retorna no papel de plebeu.

Luiz Henrique trocou o Fluminense pelo Real Bétis da Espanha em um negócio de 12 milhões de euros na mesma época da venda de Gabriel Veron. Ao contrário do colega, seguiu rumo à LaLiga. Começou bem. Figurou até na lista de suplentes do técnico Tite para a Copa do Mundo do Catar em 2022. O excelente ponta-direita de 23 anos não se firmou na Europa. A Eagle Football Holdings, de John Textor, o comprou por 20 milhões de euros e o reforço do Botafogo deve fazer escala. O Glorioso é conexão para a ida dele ao Lyon.

O bate e volta de refugos tem sido crescente entre jovens, porém atinge experientes. Em 2022, o meia Gustavo Scarpa foi o cara do Palmeiras na conquista do Campeonato Brasileiro. Estufou e o peito e partiu de graça para realizar o sonho de jogar na Premier League. Durou 10 jogos no Nottingham Forest, 11 no Olympiacos da Grécia e desembarcou no Brasil com status de maior reforço do Atlético-MG.

A estratégia de mirar refugos foi lançada em 2019 pelo Flamengo. Gabigol fracassou na Internazionale e no Benfica. Gerson e Pedro não se firmaram na Fiorentina. Everton Cebolinha frustrou o Benfica. Imponente e oportunista financeiramente para comprar e honrar salários de patamar europeu, o clube carioca montou elenco de alto padrão.

A consolidação de jovens, como Vinicius Junior, Rodrygo, Éder Militão, Gabriel Jesus, Martinelli, Richarlison e outros na Europa, é exceção. O Brasil virou destino de refugos. Eles voltarão cada vez mais para clubes do país economicamente saudáveis.

 


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