Não é novidade para ninguém que o regime dos aiatolás apoia os rebeldes huthis — xiitas que controlam a parte ocidental do Iêmen, incluindo o porto de Hodeida, às margens do Mar Vermelho, e a capital Sanaa. Também não é novidade que o governo de Teerã e a milícia fundamentalista libanesa Hezbollah funcionam como um suporte ideológico, financeiro e bélico para o movimento extremista palestino Hamas. Especialistas são unânimes em criticar a influência do Irã sobre os países vizinhos do Oriente Médio. Além do ímpeto em impulsionar o programa de enriquecimento urânico com a suposta intenção de alavancar a construção de armas nucleares e o poder de dissuasão regional.
Quando estive em Israel, na fronteira com a Faixa de Gaza, em março passado, escutei do atual porta-voz do Exército judeu que os iranianos forneciam peças e foguetes para o Hamas, contrabandeados para o enclave palestino por meio de uma vasta rede de túneis que começava em Rafah e serpenteava sob a Cidade de Gaza e outras regiões.
Nesta terça-feira, os Estados Unidos anunciaram a apreensão de peças de mísseis iranianos enviadas aos huthis no Iêmen. Os "componentes de mísseis balísticos e de cruzeiro" foram encontrados em uma embarcação que viajava pelo Mar Arábico. Durante a operação militar, dois fuzileiros navais Seals, que ajudaram a matar Osama bin Laden, em 2011, se perderam no mar.
No mesmo dia, o Irã foi acusado pelo Iraque de atacar a região autônoma do Curdistão, em uma ofensiva que matou quatro civis. Mais um foco de instabilidade em uma região conflagrada por décadas de animosidade, conflitos, ódio religioso e desavenças políticas.
A retórica do regime iraniano também vai de encontro à confrontação. Durante discurso no funeral de 89 vítimas de uma dupla explosão reivindicada pelo Estado Islâmico, no aniversário de morte do general Qassem Soleilami, líder da Guarda Revolucionária Islâmica, o presidente Ebrahim Raisi fez uma ameaça e se referiu ao massacre perpetrado pelo Hamas, em 7 de outubro passado, no sul de Israel. "Sabemos que a operação 'Enchente de Al-Aqsa' levará ao fim do regime sionista", advertiu. Israel sustenta que o Irã esteve envolvido no mais grave atentado da história a atingir o Estado judeu.
Um conflito direto entre Irã e Israel pode arrastar todo o Oriente Médio para um abismo, com retaliações da Síria e do Hezbollah. Além de acelerar o programa nuclear de Teerã e tornar o mundo refém de chantagens e de ameaça de um ataque atômico.