» Heloisa Morel, diretora executiva do Instituto Península
» Haroldo Corrêa Rocha, coordenador geral do Movimento Profissão Docente
Hoje, mais do que nunca, é consenso que a educação é um dos principais fatores para a competitividade e o desenvolvimento de uma nação. Países com sistemas educacionais de alta qualidade estão mais bem posicionados para enfrentar diversos desafios, incluindo aqueles que envolvem a redução das desigualdades sociais e suas consequências: fome, desemprego e violência.
No Brasil, a crise de aprendizagem é um problema crônico, que impede o país de alcançar seu potencial. E para conter esse problema, não há apenas um caminho, mas uma série de providências a tomar. A recomposição da aprendizagem entre crianças e adolescentes deve considerar particularidades de cada contexto e olhar para uma figura central no processo de ensino e aprendizagem: o professor.
Em 5 de dezembro de 2023, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2022. Ainda que a comparação em avaliações internacionais seja imperfeita, já que os contextos são distintos, o resultado recém-publicado demonstra com clareza a estagnação do Brasil em reverter a triste realidade da educação.
Inúmeros estudos mostram que, no ambiente escolar, o professor é o fator determinante para garantir o desenvolvimento dos alunos. Nesse sentido, o Brasil está diante de um mega desafio: revolucionar o sistema de formação inicial de professores para a educação básica.
Ousamos dizer que o Brasil, quando se trata de formação de professores, está "no fundo do poço". A formação tradicional, que se pratica, há décadas, nas Instituições de Ensino Superior (IES), continua centrada na transmissão de conhecimentos teóricos, que, obviamente, são imprescindíveis, mas que, ao serem isolados das práticas docentes, não são suficientes para preparar os professores para os desafios no dia a dia nas salas de aula.
As frágeis e quase inexistentes relações estruturadas das IES com as redes públicas de ensino e suas unidades escolares tornam mais distantes a conexão dos futuros professores com as realidades da sala de aula, aspectos que tornam a formação de professores ineficaz. Esse quadro já é bastante preocupante em si, mas se agrava ainda mais com o uso inadequado e desmedido das tecnologias digitais, que gerou uma avalanche de cursos a distância de baixo custo e de baixa qualidade, no formato autoinstrucional, privando os futuros professores da vivência dos ambientes escolares.
Formar professores de qualidade não é trivial. A superação desse desafio demanda um esforço coordenado de múltiplos agentes e instituições. Nesse contexto, a liderança e a coordenação do Ministério da Educação são indispensáveis.
A estratégia de enfrentamento do desafio de construção de um novo modelo de formação inicial de professores para o Brasil deve ter a participação das representações das IES públicas e privadas, das secretarias estaduais e municipais de Educação, dos professores e da sociedade civil organizada. O debate deve ser amplo e transparente, mas deve ter como base estudos técnicos que fundamentem uma política pública.
O Brasil precisa, com urgência, conceber e iniciar a implementação de uma inovadora e robusta Política Nacional de Formação Inicial de Professores para a educação básica. Tal política deve ser pautada pelos seguintes objetivos: formar professores com foco em práticas pedagógicas; garantir financiamento às instituições de ensino superior para a reestruturação curricular e a supervisão pedagógica dos estágios; viabilizar parcerias entre as IES, os sistemas de ensino e as escolas, garantindo a efetiva realização dos estágios supervisionados; e oferecer bolsas de estudos aos estudantes de formação inicial, possibilitando sua dedicação exclusiva aos estudos.
Se o Brasil quiser se colocar como líder diante dos desafios globais e garantir o futuro da nação, precisa investir na formação de professores de qualidade. Professores de qualidade e alto desempenho constituem a principal alavanca para melhorar a qualidade da aprendizagem dos estudantes e garantir que todos possam aprender e se desenvolver. O Brasil está diante de uma urgência. A educação não pode esperar!