*Por LEANDRO FONSECA, Head de Public Affairs e Healthcare System Sustainability da Novartis Brasil
Existe um paradoxo na medicina moderna, justamente entre o novo e o antigo. Ao mesmo tempo em que a aceleração dos avanços tecnológicos e científicos dos últimos anos tenha nos permitido encontrar medicamentos inovadores para diversas doenças complexas que anteriormente eram consideradas sem cura, metade da população mundial sofre pela falta de cuidados básicos, como saneamento e água potável. Nesse cenário de iniquidades, cresce a relevância de lançarmos o olhar também para as doenças negligenciadas.
Caso você não conheça esse termo, doenças negligenciadas são aquelas que fazem parte de um grupo de 20 enfermidades que incluem doenças como dengue, doença de Chagas, leishmaniose e raiva. O termo vem do fato delas se proliferarem sobretudo em comunidades carentes ao redor do mundo, o que dificulta o acesso tanto à sua prevenção quanto ao diagnóstico e tratamento. E o número de pessoas que seguem sendo acometidas é cada vez maior. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, é estimado que mais de um bilhão de pessoas estejam com uma doença negligenciada. Para se ter uma ideia, isso representa cerca de um sexto da população mundial.
Entre elas, a mais antiga de que temos conhecimento é a hanseníase, uma doença milenar que também já foi chamada de lepra, mas perdeu esse título pelo estigma que ela trazia para as pessoas que estavam infectadas. Ela é uma doença que provoca lesões de pele e danos aos nervos que podem inclusive causar deficiência física, caso não sejam diagnosticados precocemente e recebam o tratamento adequado. Apesar de muito conhecida, pouco se fala sobre a doença no Brasil, e aqueles que convivem com as lesões de pele causada por ela ainda sofrem muito preconceito. Pensando nisso, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) lançou a campanha Janeiro Roxo, que em 2016 foi reconhecida pelo Ministério da Saúde e passou a integrar o calendário de ações de saúde, que incluem Outubro Rosa e Novembro Azul, por exemplo.
Por ser uma doença infecciosa e que pode demorar anos para se manifestar, a hanseníase continua se espalhando cada vez mais entre os moradores dessas áreas mais afetadas. Resultado disso é que hoje o Brasil é responsável por 90% dos novos casos na América Latina, além de ser o segundo país com mais casos da doença no mundo, o que torna o enfrentamento da hanseníase um desafio de saúde pública brasileira. As regiões mais afetadas pela doença são Centro-Oeste, Norte e Nordeste, com Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Pará e Piauí liderando os números de casos. Ainda mais preocupante é pensar que esses dados podem ter sido afetados pela pandemia de covid-19, já que houve uma queda brusca no diagnóstico da doença, chegando a cair 41,4% em 2020, se comparado aos anos de 2015-2019.
Apesar de ser uma tarefa difícil, o Ministério da Saúde está empenhado em erradicar a hanseníase no Brasil. Em 2023, a pasta lançou a chamada Estratégia Nacional para o Enfrentamento da Hanseníase, que pretende, entre os anos de 2023-2030, acabar com a doença no país, intensificando ações de enfrentamento da hanseníase nas regiões mais afetadas. Mais do que isso, a iniciativa é uma ação de muitas mãos, que busca participação de diferentes entidades do setor e atores do ecossistema de saúde na luta contra a doença.
Assim como o Ministério da Saúde, a Novartis sabe que só podemos enfrentar os desafios da saúde do Brasil trabalhando juntos. Nos orgulhamos de fazer parte desse conjunto de ações para combater a hanseníase no país há mais de 20 anos, atuando em parceria com a Organização Mundial da Saúde e com o governo para fornecer, de maneira gratuita, um tratamento que interrompe a transmissão e trata a doença.
Todavia, era preciso fazer mais e em 2009 criamos a Carreta Novartis de Saúde, um projeto que funciona como um centro de saúde móvel equipado com cinco consultórios e um laboratório que promove não apenas atendimento para o diagnóstico e tratamento da hanseníase em diversos estados, mas também leva informação por onde passa, com materiais e intervenções educativas. A Carreta já passou por mais de 600 municípios em 18 estados e realizou mais de 100 mil consultas gratuitas, chegando a responder por 25% de todos os diagnósticos da doença nos locais pelos quais o projeto passou.
Iniciativas como a Estratégia Nacional para o Enfrentamento da Hanseníase são fundamentais para criar um espaço de diálogo e ações efetivas que levarão a diminuição e erradicação de casos de hanseníase no Brasil. E isso só poderá ser feito se imaginarmos a medicina juntos, por meio da cooperação entre os atores do ecossistema de saúde para levar acesso à informação, diagnóstico e tratamento para os quatro cantos do nosso país.
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